RIO DE JANEIRO - Esta Folha não noticiou. O "Estadão" também não. Na sexta-feira (15), o movimento Mães de Maio realizou na praça da Sé um ato para marcar os nove anos da reação da polícia de São Paulo à onda de ataques do PCC. Em uma semana de maio de 2006, foram mortas a bala 493 pessoas. É preciso ser muito ingênuo ou perverso para acreditar que os 493 atingidos eram bandidos.
Para tentar impor a ordem num momento de caos, a polícia saiu às ruas matando no atacado os alvos que acerta no varejo, dia após dia: jovens pretos e pobres. Para pegar dezenas (se tanto) de criminosos, dizimou centenas de inocentes.
O leitor deste jornal possivelmente dirá que valeu a pena. Afinal, não se faz omelete sem quebrar os ovos --ou algum clichê semelhante. Mas e se alguns (só dois ou três) fossem do Itaim Bibi? Ou de Higienópolis?
Mas foram jovens de bairros de periferia. A imprensa cobriu bem o assunto naquela época, mas talvez hoje não se anime com a pauta: "De novo essas Mães de Maio?".
Para elas, não há alternativa. Perderam filhos. O que mais têm a perder? O Estado e a Justiça ainda não lhes disseram o que aconteceu. Se disserem, assumirão que a polícia matou a esmo. Por isso, as investigações não andam. Por isso, as mães vestem camisas amarelas (não da CBF) e vão às ruas gritar. "Nossos mortos têm voz" é o seu lema.
Estudo do Mapa da Violência, divulgado na quarta (13) com dados de 2012, mostrou que morreram por armas de fogo naquele ano, no Brasil, quatro jovens (15 a 29 anos) para cada não jovem (outras idades). Em números absolutos, 24.882 jovens mortos por armas de fogo. Quem não dá a mínima para a vida dos pobres pode, ao menos, imaginar o impacto disso na economia do país.
Parece um bom motivo para botar camisa amarela e gritar. E para a imprensa escutar.
Folha de S.Paulo, 17/5/2015
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