8 de janeiro de 2013

São Paulo: Chacinas sem explicação


A onda de violência que se abateu sobre a Grande São Paulo no segundo semestre do ano passado parece ter sofrido um refluxo após a posse do novo secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, que assumiu o cargo no final de novembro. Ainda assim, a insegurança persiste na periferia.
Na sexta-feira à noite, 14 homens encapuzados mataram sete pessoas em um bar na zona sul da cidade. A chacina se deu na mesma rua em que, dois meses atrás, cinco policiais militares assassinaram um suspeito desarmado -cena deplorável exibida na televisão.
A ocorrência desse tipo de episódio mostra que o sangrento 2012 ainda não cicatrizou totalmente, sem que a população tenha sido informada sobre as verdadeiras razões da escalada de violência.
O número de chacinas na região metropolitana de São Paulo vinha caindo de forma constante desde 2007. Subitamente, as matanças saltaram de 12, em 2011, para 24 no ano passado, e o número de mortos nesses casos foi de 41 a 80.
De todos esses homicídios múltiplos cometidos em 2012, até agora apenas um foi solucionado pelo Estado -e seis policiais militares terminaram presos acusados de participar do crime.
A falta de esclarecimento infunde medo na população, que se sente à mercê da violência. Pior, alimenta a hipótese, sinistra, de que policiais estejam envolvidos em outros episódios. Sintoma desse quadro, pesquisa Datafolha do final de novembro mostrou que 53% dos paulistanos sentiam mais medo do que confiança na Polícia Militar.
Para o sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a troca de comando na Secretaria da Segurança Pública já melhorou a situação. A diminuição no número de homicídios dolosos na capital corrobora a impressão.
Apesar disso, as suspeitas não se dissiparam. Moradores da região de São Paulo onde ocorreu a primeira chacina de 2013 atribuíram as mortes a agentes da PM, o que não foi comprovado.
O secretário Fernando Grella Vieira parece empenhado em reparar os estragos e restaurar a confiança no trabalho da polícia. É imprescindível que o faça, e esclarecer esses morticínios é um dos primeiros passos nessa direção.

Editorial, Folha de SP,8/1/2013

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