- EDITORIAIS, Folha de S.Paulo, 1/5/2013
Alunos beneficiados por esquemas de inclusão social em universidades públicas têm desempenho um pouco pior; evasão, porém, é menor
Há sinais de que se alarga o espaço para objetividade no sensível debate sobre cotas em universidades públicas, como mostrou reportagem de Érica Fraga, nesta Folha, sobre notas obtidas por cotistas.
Instituições oficiais de ensino superior consomem verbas públicas para formar recursos humanos de qualidade. A seleção com base no mérito acadêmico, medido pelo vestibular, era a forma usual de escolher os jovens privilegiados com esse investimento social.
Como os melhores alunos do ensino médio no Brasil costumam sair de escolas particulares, o vestibular e as faculdades públicas tornaram-se um mecanismo reprodutor de vantagens sociais.
Surgiu então a pressão, fora e dentro da universidade, para torná-la socialmente mais diversa e inclusiva. Um movimento legítimo, mas infelizmente distorcido pelo viés de raça, importado dos EUA.
O critério racial para cotas padece de dificuldades éticas e práticas insuperáveis, como inscrever a discriminação (ainda que bem-intencionada) em lei e ter de arbitrar a raça dos muitos mestiços brasileiros. Por tal razão, este jornal advoga cotas sociais, como bônus para estudantes oriundos de escolas públicas, no pressuposto de que o critério favorecerá de modo automático os mais pobres e os integrantes de contingentes étnicos.
Como promove a inclusão de alunos mais despreparados, era de prever que o sistema redundasse em menor rendimento acadêmico de sua parte no curso universitário.
Foi precisamente o resultado encontrado por Fábio Waltenberg e Márcia de Carvalho, da Universidade Federal Fluminense, com base no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) de 2008. As notas de 167.704 alunos que concluíam a graduação revelaram que os cotistas tiveram avaliações 9% a 10% menores que não cotistas, dependendo da instituição.
Salta aos olhos que a defasagem não seja muito significativa. Para comparação, basta mencionar que estudantes do sexo feminino costumam ter notas 10% superiores às de colegas masculinos.
Outro estudo, com egressos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (pioneira na introdução de cotas), encontrou diferencial similar (8,5%) e uma tendência surpreendente: mais cotistas (47%) se formam do que não cotistas (42%).
Essas pesquisas, ainda preliminares, sugerem que as cotas não ocasionam o desastre acadêmico previsto, de um lado, e talvez até melhorem a eficiência do gasto público (diminuindo a evasão).
Montar um sistema de acompanhamento meticuloso dessas variáveis é crucial para o governo federal revisar periodicamente o experimento social das cotas.
LUIZA BANDEIRAENVIADA ESPECIAL A CAMPO GRANDEO ministro da Educação, Aloizio Mercadante, disse ontem que o governo "não vai recuar" da política de cotas, mas que as universidades precisam "trabalhar" para que cotistas tenham o mesmo desempenho dos alunos que ingressaram pelo sistema tradicional.
Reportagem da Folha de domingo mostrou que, segundo estudos recentes, beneficiários de cotas e bônus apresentam resultados piores do que os demais na graduação.
As pesquisas também concluem que a diferença de notas perdura até o fim do curso.
"A universidade tem que preparar tutoria, trabalhar com esses jovens para eles terem o mesmo desempenho, mas nós não vamos recuar dessa política", disse o ministro da Educação, em discurso durante a cerimônia, em Campo Grande, de entrega de ônibus escolares para prefeituras de Mato Grosso do Sul.
"Vamos combater essa visão elitista de que educação é só para quem pode pagar ou nasceu numa família rica."
Na fala, Mercadante incluiu a política de cotas entre as ações bem-sucedidas do governo na área da educação.
Ele defendeu a lei que destina metade das vagas em universidades federais para alunos egressos de escolas públicas --porque, justifica, 88% dos alunos do ensino médio, etapa anterior à universidade, estudam na rede pública.
Governo não vai desistir de cotas, afirma ministro
Para Mercadante, universidades precisam melhorar desempenho de alunos cotistas
Reportagem da Folha de domingo mostrou que, segundo estudos recentes, beneficiários de cotas e bônus apresentam resultados piores do que os demais na graduação.
As pesquisas também concluem que a diferença de notas perdura até o fim do curso.
"A universidade tem que preparar tutoria, trabalhar com esses jovens para eles terem o mesmo desempenho, mas nós não vamos recuar dessa política", disse o ministro da Educação, em discurso durante a cerimônia, em Campo Grande, de entrega de ônibus escolares para prefeituras de Mato Grosso do Sul.
"Vamos combater essa visão elitista de que educação é só para quem pode pagar ou nasceu numa família rica."
Na fala, Mercadante incluiu a política de cotas entre as ações bem-sucedidas do governo na área da educação.
Ele defendeu a lei que destina metade das vagas em universidades federais para alunos egressos de escolas públicas --porque, justifica, 88% dos alunos do ensino médio, etapa anterior à universidade, estudam na rede pública.
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