25 de abril de 2015

Isaac Roitman: Perguntas sem respostas


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Uma pessoa minimamente informada faz em diferentes momentos indagações sem adequadas respostas. Listo algumas:
Até quando teremos no noticiário da mídia notícias sobre guerras, atentados desumanos, violência desenfreada, corrupção endêmica e balas perdidas?
Até quando teremos que testemunhar no nosso cotidiano a crescente injustiça social no país e no planeta em um cenário de crianças desassistidas, atraídas para o mundo das drogas e do crime, e gente morrendo sem assistência em postos de saúde e hospitais?
Até quando vamos ter que ouvir as promessas de campanha que não são cumpridas pela maioria de nossos políticos?
Até quando teremos que testemunhar o uso irracional de nossos recursos naturais que comprometerão a vida das próximas gerações?
Alguns países com governantes de bom senso e que conduziram políticas de estado acertadas nas áreas da educação, saúde, segurança e meio ambiente minimizaram as consequências das questões apontadas.
Uma educação voltada não só voltada para o mercado, mas voltada para a promoção e consolidação de valores e virtudes –solidariedade, ética, justiça social, compreensão e respeito a diversidade e ao meio ambiente– certamente nos levará a uma sociedade mais justa onde todos possam ter uma melhor qualidade de vida e conquistar a felicidade. Povoar o País com uma nova geração bem educada é o nosso grande desafio e a nossa prioridade.
No entanto uma questão que vai além de nossas fronteiras tendo uma dimensão planetária e que coloca em cheque a humanidade. Até quando o planeta suportará o crescimento contínuo da população humana e das ações que contribuem para as mudanças climáticas? No ano 1 da nossa era, estima-se que havia cerca de 150 milhões de pessoas no nosso planeta.
Esse número dobrou em 1350, quadruplicou em 1700 e chegou ao primeiro bilhão em 1804. No século 20, quando a urbanização e os avanços da medicina fizeram a população saltar de 1,6 bilhão de pessoas para 6,2 bilhões.
Nas últimas décadas a taxa de nascimento tem diminuído. Apesar disso o mundo recebe 77 milhões de pessoas a cada ano. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) a estimativa é que em 2050 teremos 9,3 bilhões de pessoas no planeta.
Segundo James Lovelock, um dos mais influentes cientistas do século 20, as próximas décadas serão sombrias. Segundo ele a seca e os extremos climáticos serão cada vez mais intensos e em 2040 o Saara vai invadir a Europa. Várias cidades, como Atlanta, Phoenix, Miami e Londres serão inabitáveis. Na sua visão pessimista ele estima que a população da Terra encolhera para 500 milhões, sendo que a maior parte dos sobreviventes habitará altas latitudes como Canadá, Islândia, Escandinávia e bacia ártica.
O matemático Safa Motesharrei da Universidade de Maryland estudioso das ciências ambientais e sociais concluiu que a modernidade não vai livrar o homem do caos. Segundo ele, "o processo de ascensão e colapso é, na verdade, um ciclo recorrente encontrado que se repete na historia".
Segundo a Nasa a civilização está a um salto do abismo considerando que as raízes do colapso são o crescimento da população e as mudanças climáticas. Emerge então uma nova pergunta. Essa previsão apocalíptica pode ser evitada?
A própria pesquisa da Nasa, no entanto, ressalta que o fim da civilização ainda pode ser evitado, desde que ela passe por grandes modificações. As principais são controlar a taxa de crescimento populacional e diminuir a dependência por recursos naturais, além disso, estes bens deveriam ser distribuídos de um modo mais igualitário.
Segundo Leonardo Boff sempre que uma cultura entra em crise, como a nossa, faz suscitar mitos de fim do mundo e de destruição da espécie. Segundo ele o que importa agora é mostra amor à vida, ter compaixão com todos que sofrem, realizar rapidamente a justiça social necessária e amar a Grande Mãe, a Terra.
E completa, as escrituras judaico-cristã devem nos incentivar: "Escolha a vida e viverás". Andemos depressa, pois não temos muito tempo a perder.
ISAAC ROITMAN, 76, é professor emérito da Universidade de Brasília e membro titular da Academia Brasileira de Ciências

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