29 de abril de 2015

Jorge Werthein: Uma agenda em aberto. (Objetivos do desenvolvimento do Milénio)

O Globo , 25/4/2015


À medida que o ano de 2015 avança, os Estados membros da Organização das Nações Unidas olham inquietos para o relógio: aproxima-se a data-limite para um balanço dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), e já se sabe que a essa agenda está inconclusa.


Há países onde é praticamente nula a perspectiva de cumprimento das metas, e alguns dos ODM estão em situação mais crítica que outros. É o caso do objetivo número 2, que prevê a universalização da educação fundamental.


A despeito de esforços em diferentes esferas, quase 60 milhões de crianças no planeta ainda não frequentam uma escola. Como esperar desenvolvimento sustentável de populações que mal sabem ler e escrever, especialmente em um mundo que demanda cada vez mais informação e conhecimento?

Essa vem sendo considerada uma “agenda pendente”, que justificou a realização, por UNESCO e UNICEF, do Encontro Global sobre Educação, em novembro de 2013. A proposta dos ministros dessa área, à época, era promover o que chamaram de “empurrão” (“Big Push”) para que, até 2015, fossem atingidas as metas estabelecidas na Conferência Mundial Educação para Todos, realizada na Tailândia em 1990.


O ex-diretor do Grupo de Parcerias Globais do movimento Educação para Todos, Olav Seim, já alertava, em 2013, que as conquistas obtidas podem mesmo dar a falsa impressão de avanço quando, na realidade, o número de crianças fora da escola e os investimentos em educação cresceram para, em seguida, estagnar.

Para a Sheikha Moza bint Nasser, presidente da Fundação “Education Above All” (Educação acima de Tudo), do Catar, “o que precisamos é de vontade política, nos comprometer com o princípio de que a educação deve estar no centro dos objetivos do desenvolvimento, como elemento que possibilita todas as outras áreas”.

Em termos de agenda pós-2015, retoma-se a preocupação com a qualidade da educação. Parece haver consenso entre especialistas em políticas educacionais quanto à necessidade de se valorizar mais o conteúdo efetivamente ensinado e aprendido – de maneira a preparar crianças e jovens para a vida e o mercado de trabalho do século 21 – e menos os índices de matrícula ou de professores por estudante, ainda que esses dados tenham sua importância.


Embora o objetivo educacional da agenda pós-2015 preveja abrangência maior (da pré-escola ao ensino superior), isso não é necessariamente positivo. De forma relativa, a nova agenda reduz a prioridade ao ensino fundamental. Daí se buscar agora atenção especial à agenda inconclusa, o ODM 2.


A ênfase no ensino fundamental se justifica, sobretudo, pela visão de futuro. Nele, deposita-se a expectativa de realizações de um potencial hoje submerso devido ao iletramento, o analfabetismo funcional, e a exclusão social de segmentos populacionais. Nesse aspecto, 2015 é um ano que não começou e, se os relógios não se adiantarem, pode demorar a começar .

Jorge Werthein, Doutor em Educação pela Universidade de Stanford,
Senior Education Advisor, Education Above All Foundation


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