15 de dezembro de 2016

Opção de escolha por área no ensino médio agrada estudantes e divide pais


Apu Gomes/Folhapress
SO PAULO, SP, BRASIL, 19-08-2011, 07h00: GOVERNO LOTA SALAS DE AULAS. Alunos do 1 ano do ensino medio em aula de Matematica na Escola Estadual Professor Wolny Carvalho Ramos, na Vila Regente Feijo, zona leste de Sao Paulo, escola considerada modelo pelo governo do Estado, com uma media de 35 alunos por sala de aula. Escolas Estaduais de Sao Paulo possuem mais alunos em sala de aula que o recomendado MEC. (Foto: Apu Gomes/Folhapress, Cotidiano ) *** EXCLUSIVO***
Alunos do 1º ano do ensino médio de escola estadual na Vila Regente Feijó, zona leste de São Paulo
possibilidade de escolher disciplinas e áreas preferidas no ensino médioagrada os estudantes, mas esse ponto do projeto de reforma da etapa, em trâmite no Congresso Nacional, não tem a simpatia da maioria dos pais.
A ideia é vista como ótima ou boa por 58% do estudantes, enquanto 40% dos pais pensam da mesma forma. Entre os pais, 43% entendem que a flexibilidade é péssima ou ruim, segundo pesquisa Datafolha realizada com esses dois grupos na cidade de São Paulo no final do mês passado.
A pesquisa, que ouviu 805 estudantes e 408 pais de 25 a 30 de novembro, reflete a opinião de estudantes do 8º e 9º anos do ensino fundamental e do ensino médio, além de pais com filhos nessas séries na capital paulista. Entre os consultados, 80% são da rede pública e o restante, de escolas particulares (proporção que reflete a realidade das matrículas em SP).
O governo Michel Temer editou uma medida provisória para mudar a legislação que rege a organização do ensino médio. O governo foi criticado por estudantes e especialistas por, entre outras coisas, não ouvir a sociedade.
Com a reforma, alunos poderão escolher parte da grade curricular em cinco áreas: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ensino técnico.
"Como você fala sobre escolher matérias sem mudar o Enem?", questiona o corretor de seguros Luis Braga, 59, pai de Francisco, 17, que é aluno da rede pública. Para Braga, que defende mais verbas para a educação, a mudança na carga horária vai prejudicar a população mais pobre. "Para mim, essa reforma é excludente. Vai tirar do jovem a chance de estudar."
O filho também critica. "As escolas precisam de mudanças, e não é de agora. Mas não como o governo quer", diz.
Caberá às redes e escolas se adequarem para oferecer essas opções. Pelo texto, ao menos duas áreas terão que ser oferecidas.
O Datafolha mostra uma dispersão entre as áreas que os estudantes escolheriam. A preferência entre ensino técnico, ciências humanas e matemática aparece, respectivamente, com 26%, 23% e 20% nas respostas dos estudantes. Linguagens tem 16% e ciências da natureza, 14%.
Entre os pais, 41% preferem que os filhos escolham ensino técnico. "Os pais querem mais tutela e parecem ser mais pragmáticos ao apontarem o ensino técnico", diz Pablo Ortellado, da USP.
Para Anna Helena Altenfelder, do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), "os alunos buscam maior autonomia e os pais, que as escolas tomem as decisões pelos filhos".
IMPLEMENTAÇÃO
Segundo Altenfelder, o interesse em todas as áreas indica dificuldade para os governos. "Reforça o desafio da implementação, para que a oferta das áreas seja garantida para todos."
Com a reforma da etapa, o governo lançou uma política de fomento ao ensino integral. Mas ampliar o tempo de escola também causa divergências. Enquanto 71% dos pais acham a ideia ótima ou boa, só 41% dos estudantes têm essa opinião.
A grande maioria de estudantes e pais são favoráveis à manutenção de educação física e artes no ensino médio. O texto original da reforma havia tirado a obrigatoriedade dessas disciplinas.
Esses conhecimentos seriam previstos na Base Nacional Comum Curricular, ainda em discussão no MEC, mas a oferta dependeria das redes. O relatório em análise no Congresso trouxe a obrigatoriedade desses conteúdos de volta. O texto está agora no Senado.
O ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), defende que, mesmo com a medida provisória, há espaço para a discussão no Congresso, "a casa de representação popular". Após ser editado, o texto tem 120 dias para ser validado pelos parlamentares.
Segundo ele, a MP colocou o ensino médio no centro da discussão. "O ensino médio estava em debate em meios acadêmicos, de educadores e especialistas, mas quem colocou o debate para a sociedade foi este governo", defende. "O processo não se encerra agora, ele prossegue."
Só 9% dos estudantes dizem que suas opiniões foram ouvidas e atendidas. Entre os pais, 2% pensam dessa forma.
"Estamos sendo expulsos das sessões que estão debatendo a MP, na grande maioria não conseguimos nem entrar", diz Camila Lanes, presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). "Não acreditamos que os problemas das escolas serão solucionado com uma medida de urgência."
A margem de erro é de 4 pontos percentuais entre alunos e de 5 entre pais. 

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