26 de maio de 2013
Brasil: Como passamos a ler mais
PEDRO HERZ, 73 anos, empresário. À frente da Livraria Cultura o livreiro paulistano viu a marca passar de uma para 17 lojas em todo o país. Outras duas deverão ser abertas até o fim do ano. Hoje sob o comando de seu filho, Sérgio Herz, a empresa se tornou uma das líderes no mercado brasileiro de livros digitais
Livros
O mercado editorial brasileiro cresceu, amadureceu e se tornou um dos maiores do mundo
Danilo Venticinque, Revista Epoca, 26/5/2013
Se em 1998 alguém perguntasse a Pedro Herz onde ficava sua loja, ele precisaria dar apenas um endereço. A Livraria Cultura, fundada por sua mãe, Eva Herz, funcionava desde 1969 no tradicional prédio do Conjunto Nacional, em São Paulo. Não havia filiais - Pedro, então presidente da livraria, tentara abrir duas outras lojas nos anos 1970. Teve de fechá-las por falta de público. Nos últimos 15 anos, o crescimento foi maior do que os planos mais otimistas de Pedro. A livraria tornou-se uma rede com 17 lojas e um faturamento estimado em R$ 430 milhões em 2012. No ano passado, aliou-se à canadense Kobo para vender livros digitais. O acervo cresceu de 300 mil para 5,8 milhões de títulos. "Planejávamos crescer, mas não imaginávamos que seria tão rápido", diz Pedro. "Foi um ritmo alucinante. Nos últimos 15 anos, houve um grande crescimento cultural."
A expansão acelerada da Livraria Cultura é um dos símbolos do enorme crescimento do mercado editorial brasileiro desde 1998. "As livrarias passaram a receber um público novo e se tornaram um polo para experiências culturais", afirma Sérgio Herz, filho de Pedro, sucessor do pai no comando da livraria. O crescimento da classe C transformou os livros em objeto de consumo popular. Os jovens aderiram à literatura, atraídos por Harry Potter e outras séries de sucesso. O preço médio do livro caiu 40% desde 2004, descontada a inflação. Outro fator para popularizar os livros foi o surgimento de novos pontos de venda. As livrarias deixaram de ser a única opção. A internet se consolidou como uma alternativa, e a participação de canais como a venda porta a porta, bancas de jornais e igrejas cresceu. "Sem os novos canais de distribuição, seria impossível alcançar uma parcela importante do público", afirma Mauro Palermo, diretor da Globo Livros. É da Globo Livros o lançamento de maior sucesso no período: Ágape, do padre Marcelo Rossi, com 8,4 milhões de exemplares.
O crescimento nos últimos 15 anos transformou o Brasil no nono maior mercado editorial do mundo, segundo um estudo da International Publishers Association (Associação Internacional dos Editores). Com a estagnação dos mercados europeu e americano, as perspectivas de crescimento atraíram investimentos de grupos internacionais. Em 2003, a editora espanhola Planeta, uma das maiores do mundo, desembarcou no Brasil. Outras empresas internacionais preferiram se unir a editoras brasileiras. O grupo espanhol Prisa adquiriu 75% do capital da Objetiva em 2005. Em 2011, o gigante inglês Penguin comprou 45% da Companhia das Letras, após uma bem-sucedida parceria para o lançamento de uma coleção de livros clássicos.
A participação dos estrangeiros fortaleceu as editoras brasileiras na negociação para lançar livros no formato digital. Com a experiência de contratos pouco vantajosos fechados com a loja virtual americana Amazon nos Estados Unidos, as editoras estrangeiras ajudaram as brasileiras a endurecer a negociação para a venda de e-books no Brasil. Depois de anos em busca de um acordo, a Amazon só começou a vender o leitor digital Kindle em 2012, com concorrentes como Apple, Google e Kobo. "Hoje, estamos numa situação bastante saudável, com várias alternativas para os consumidores brasileiros" afirma Roberto Feith, diretor da Objetiva. Ele liderou as negociações das principais editoras brasileiras com a Amazon e suas concorrentes.
"O aumento no número de best-sellers permite que os editores ousem mais e apostem em obras literárias que têm prestígio, mas não dão o mesmo retorno financeiro", afirma José Luiz Goldfarb, curador do Jabuti, o prêmio literário mais tradicional do país. O fortalecimento do mercado também permitiu o surgimento de novos eventos, que ajudaram a colocar o país no roteiro da literatura mundial. O principal exemplo é a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Desde 2003, ela reúne autores de renome internacional para debates. Anualmente, recebe 25 mil pessoas. Seu sucesso inspirou dezenas de eventos semelhantes nos locais mais variados-da cidade histórica mineira de Ouro Preto às favelas pacificadas do Rio de Janeiro. "Queremos que as cidades incentivem a leitura e formem cidadãos críticos", diz Mauro Munhoz, diretor-geral da Flip.
O mercado editorial brasileiro chega a 2013 com duas ambições grandes e distintas. A primeira é consolidar a imagem dos escritores brasileiros no exterior. A participação do Brasil em agosto como convidado de honra na Feira de Frankfurt, o maior evento editorial do mundo, é um passo importante nessa direção. "Em 1994, quando fomos convidados de honra pela primeira vez, não soubemos aproveitar a atenção dada ao mercado brasileiro. Hoje, o país está mais consolidado e não desperdiçará a oportunidade" afirma Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro. A segunda ambição é manter o crescimento do mercado interno. Segundo uma pesquisa de 2012, apenas metade dos brasileiros disse ter lido um livro nos últimos três meses. Se as apostas das editoras estrangeiras estiverem certas, esse número deverá crescer nos próximos anos. "Haverá mais consumo de material de leitura e educacional, à medida que o Brasil melhorar o nível da educação e se tornar mais ávido por conhecimento", afirma Nicolas Berggruen, diretor proprietário do Grupo Prisa. Ainda há espaço para mais eventos literários, mais editoras e muitas novas livrarias.
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Há 15 anos, Danilo Venticinque estava na 7 a série do ensino médio e dedicava seu tempo livre ao desenho animado Os cavaleiros do zodíaco
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O QUE FALTA FAZER
Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em 2012, apenas 50% dos brasileiros disseram ter lido um livro no último ano
"A oferta de livros digitais em português ainda é muito pequena"
Pedro Herz, presidente do conselho da Livraria Cultura
"Todos os municípios deveriam ter uma biblioteca, da mesma forma como todos devem ter escolas e hospitais"
José Luiz Goldfarb, curador do Prêmio Jabuti
Postado por
jorge werthein
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07:15
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