Sinólogo americano desconfia da capacidade de o país exercer poder global
Um dos maiores especialistas do mundo em China, David Shambaugh, afirma que há um exagero em relação à influência chinesa no mundo.
"A China está superestimada, ela é apenas uma potência parcial, não é uma superpotência e nem será no médio prazo", disse à Folha Shambaugh.
O especialista americano, que é diretor do programa sobre a China na Universidade George Washington, acaba de lançar o livro "China Goes Global: The Partial Power" (A China se torna global: o poder parcial).
Ele esteve no Brasil para uma palestra na Fundação iFHC. Abaixo, leia trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
Folha - O senhor afirma que a China ainda é uma "potência parcial". O que falta para a China se transformar em uma superpotência?
David Shambaugh - Economicamente, a coisa mais importante que a China precisa fazer para se tornar uma verdadeira superpotência é desenvolver inovação. A China não é uma sociedade inovadora, é uma sociedade da cópia, apesar de todo o investimento em pesquisa e desenvolvimento. A China já é uma potência comercial, em volume, mas os produtos que saem do país não são desenhados lá, são apenas montados lá.
David Shambaugh - Economicamente, a coisa mais importante que a China precisa fazer para se tornar uma verdadeira superpotência é desenvolver inovação. A China não é uma sociedade inovadora, é uma sociedade da cópia, apesar de todo o investimento em pesquisa e desenvolvimento. A China já é uma potência comercial, em volume, mas os produtos que saem do país não são desenhados lá, são apenas montados lá.
E militarmente?
A China precisa ser capaz de projetar poder globalmente, e atualmente eles só conseguem fazer isso em sua região. Eles não têm bases no exterior.
A China precisa ser capaz de projetar poder globalmente, e atualmente eles só conseguem fazer isso em sua região. Eles não têm bases no exterior.
Mas os Estados Unidos vêm cortando brutalmente seus gastos em defesa. Isso não pode mudar a dinâmica no médio prazo?
Não. A diferença entre as forças chinesas e as americanas é enorme. A vantagem tecnológica dos Estados Unidos é muito grande. Outro problema é o "soft power" [poder de influenciar outros países por meios culturais ou ideológicos, sem necessidade de força militar].
Não. A diferença entre as forças chinesas e as americanas é enorme. A vantagem tecnológica dos Estados Unidos é muito grande. Outro problema é o "soft power" [poder de influenciar outros países por meios culturais ou ideológicos, sem necessidade de força militar].
E os Institutos Confúcio, não ajudam?
Os institutos são bons para ensinar a língua chinesa. Mas "soft power" é fazer com que as pessoas queiram te emular, queiram ser como você, que o país funcione como um ímã que as pessoas querem imitar. E você não encontra muitos países ou pessoas querendo imitar a China. Ninguém admira o sistema político chinês. E é um impedimento para a criatividade e inovação de seu povo.
Os institutos são bons para ensinar a língua chinesa. Mas "soft power" é fazer com que as pessoas queiram te emular, queiram ser como você, que o país funcione como um ímã que as pessoas querem imitar. E você não encontra muitos países ou pessoas querendo imitar a China. Ninguém admira o sistema político chinês. E é um impedimento para a criatividade e inovação de seu povo.
O sr. é uma voz isolada, uma vez que a maioria dos sinólogos é bem mais entusiástica a respeito da ascensão da China. Você acha que há exageros sobre a China?
Com certeza, a China é superestimada de duas maneiras: alguns superestimam a influência que a China exerce; outros, que são a maioria, exageram a ameaça que a China representa.
Com certeza, a China é superestimada de duas maneiras: alguns superestimam a influência que a China exerce; outros, que são a maioria, exageram a ameaça que a China representa.
O sr. acha que o fato de o modelo econômico chinês, baseado em exportações e grandes investimentos domésticos em infraestrutura, estar exaurido, vá levar o país a uma grande desaceleração no crescimento em breve?
Está claro que o modelo de crescimento da China se esgotou, e as autoridades chinesas sabem disso. Eles vêm discutindo a necessidade de mudar [aumentar o consumo doméstico], mas não conseguiram, porque há enorme resistência a isso.
As empresas estatais são muito corruptas e não querem mudanças no modelo.
Está claro que o modelo de crescimento da China se esgotou, e as autoridades chinesas sabem disso. Eles vêm discutindo a necessidade de mudar [aumentar o consumo doméstico], mas não conseguiram, porque há enorme resistência a isso.
As empresas estatais são muito corruptas e não querem mudanças no modelo.
Mas o sr. vê uma queda significativa na taxa de crescimento?
Bom, o primeiro problema é: quão confiáveis são as estatísticas chinesas? Há todo tipo de distorções e muitos economistas dizem que a taxa de crescimento pode ser até dois pontos percentuais inferior ao que é divulgado.
Mas, fora isso, acho que a China conseguirá manter os 6%, 5% até 2020, 2025.
Bom, o primeiro problema é: quão confiáveis são as estatísticas chinesas? Há todo tipo de distorções e muitos economistas dizem que a taxa de crescimento pode ser até dois pontos percentuais inferior ao que é divulgado.
Mas, fora isso, acho que a China conseguirá manter os 6%, 5% até 2020, 2025.
Quando a China ultrapassar os EUA em tamanho da economia, qual será o status global do país?
Provavelmente o mesmo que hoje em dia. A China é uma potência solitária, que não possui grandes aliados. Os únicos aliados são Camboja, Paquistão, Coreia do Norte e Rússia.
Provavelmente o mesmo que hoje em dia. A China é uma potência solitária, que não possui grandes aliados. Os únicos aliados são Camboja, Paquistão, Coreia do Norte e Rússia.
Mas e os Brics?
Não tenho certeza de que os países dos Brics tenham os mesmos objetivos. Há divergências comerciais entre os membros. Entre a Índia e a China, há muitos problemas territoriais e militares. Rússia e China concordam em muitas questões, mas abaixo da superfície há uma grande desconfiança.
Não tenho certeza de que os países dos Brics tenham os mesmos objetivos. Há divergências comerciais entre os membros. Entre a Índia e a China, há muitos problemas territoriais e militares. Rússia e China concordam em muitas questões, mas abaixo da superfície há uma grande desconfiança.
RAIO-X - DAVID SHAMBAUGH
CARREIRA
Diretor do programa sobre a China na Universidade George Washington, já foi analista do Departamento de Estado dos EUA e consultor do Fórum Econômico Mundial
Diretor do programa sobre a China na Universidade George Washington, já foi analista do Departamento de Estado dos EUA e consultor do Fórum Econômico Mundial
LIVROS
"China Goes Global: The Partial Power" (2013); "Charting China's Future: Domestic and International Challenges" (2011), "American and European Relations with China" (2008)
"China Goes Global: The Partial Power" (2013); "Charting China's Future: Domestic and International Challenges" (2011), "American and European Relations with China" (2008)
Nenhum comentário:
Postar um comentário