Vice-presidente brasileiro tem se ocupado de pautas difíceis no campo diplomático
A visita de Joe Biden faz refletir sobre o papel do vice-presidente na política externa de um país.
Na história brasileira, a atuação diplomática dos vices foi supérflua ou inexistente.
Michel Temer parece estar transformando esse quadro.
No ano passado, ele visitou 11 países. Em Brasília, recebe autoridades estrangeiras com regularidade.
Isso ocorre porque a demanda por encontros de alto nível é cada vez maior e Dilma não consegue responder a tudo o que é importante.
Então Temer participa da posse de presidentes em nações vizinhas, chefia delegações em foros multilaterais e realiza viagens de negócios.
Como gosta de política internacional e a diplomacia lhe cai bem, o vice-presidente também vem se ocupando de pautas difíceis.
Coube a ele restaurar os canais com a Itália depois do caso Battisti. É dele a chefia do diálogo diplomático com China e Rússia. E Dilma solicitou-lhe atenção especial aos países árabes. (Filho de libaneses, ele goza de prestígio ímpar na comunidade árabe, um grupo de quase 12 milhões de brasileiros).
Se continuar nessa rota, Temer poderá transformar-se em conselheiro presidencial de primeiro nível para assuntos internacionais.
Isso é uma excelente notícia para a política externa brasileira.
A Vice-Presidência da República, independentemente do titular, é um centro de poder com autoridade própria. Em diplomacia, trata-se de uma característica que vale ouro. Por isso, tanto militares quanto diplomatas têm pedido cada vez mais Temer.
O potencial diplomático do vice brasileiro é amplo.
Atuando acima dos interesses paroquiais de cada um dos órgãos de governo, ele poderia discipliná-los. Hoje, o Estado brasileiro atua fora das fronteiras de forma bastante descoordenada, produzindo um descompasso que já traz custos elevados em casos como Haiti, África, Atlântico Sul e Brics. O vice poderia ajudar a reverter a situação.
Além disso, como articulador da aliança governista, o vice brasileiro está em condição privilegiada para pressionar o Legislativo sempre que a disputa parlamentar empaca matérias de interesse direto para o processo de ascensão do país no sistema internacional.
Por isso, talvez fosse útil aproveitar a atual conjuntura para estudar a melhor maneira de envolver o vice em assuntos internacionais.
Temer tem feito bastante em política externa. Pode fazer muito mais.
Claro que uma decisão dessa natureza traz riscos embutidos. Afinal, o alinhamento entre um presidente e seu número dois nunca é perfeito. E qualquer rachadura, quando exposta, pode virar crise grave.
Contudo, seria um equívoco restringir o perímetro de atuação internacional do vice por aversão ao risco. Quem mais tem a ganhar com seu envolvimento ativo é o próprio governo, transformando o cargo em alavanca negociadora do mundo afora.
A transformação da Vice-Presidência da República em um ator diplomático com espaço próprio é um projeto simples, barato e de grande impacto.
Isso ninguém deveria temer.
Folha de S.Paulo, 29/5.2013
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