O governo brasileiro propôs à Argentina a criação de um mecanismo para organizar a relação entre os dois países. Seria uma comissão de acompanhamento regular e planejamento. A lógica por trás desse instrumento é dotar ambas as diplomacias de capacidade para gerir uma relação marcada por enorme dependência mútua e dificuldades constantes.
A iniciativa chega na melhor hora. A crise econômica brasileira já começou a gerar incerteza política e a promessa de tensão social no país vizinho, que tem seis meses de disputa presidencial pela frente. Em Buenos Aires, espera-se que a relação diplomática entre os dois países piore antes de melhorar.
Se Cristina der sinal verde à proposta brasileira, o trabalho será intenso, porque implementar um esquema dessa natureza não é fácil.
Um motivo é estrutural: os dois países veem o mundo de modo muito diferente e, em diversas áreas, competem entre si. Não à toa, o lulismo acumulou frustrações recorrentes com o kirchnerismo, apesar das faixas de coincidência entre os projetos políticos de um e outro.
Outro motivo é conjuntural. O kirchnerismo concentrou a política externa num pequeno núcleo de pessoas vinculadas pessoalmente a Cristina. A chancelaria apita pouco, e há jovens embaixadores em postos-chave com pouca ou nenhuma experiência prévia além da militância peronista. O cenário para a diplomacia profissional é desolador.
O futuro político também gera dúvidas. Diante das câmaras, todo candidato presidencial à sucessão de Cristina promete trabalhar em parceria com o Brasil. No entanto, não é isso o que se ouve em off.
Conversando semana passada com gente das campanhas, ouvi falar do Brasil como país "inevitável" ou "indispensável", mas nunca como "amigo" ou sinônimo que o valha.
Daniel Scioli, candidato oficialista, viajou a São Paulo para tirar uma foto de campanha com Lula. Entre seus assessores, há diferenças. Uns querem aproximação com o Brasil para conter os efeitos da crise. Outros, oriundos do menemismo da década de 1990, lembram as dificuldades de operar com a Esplanada dos Ministérios.
Mauricio Macri, principal candidato oposicionista, é abertamente duro com o Brasil. Para ele, o intervencionismo estatal do lulismo contaminou o debate público argentino. Se ganhar, não arrebentará a relação bilateral porque poderosos interesses privados que o apoiam investem pesado numa boa relação com o Brasil. Mas a fricção bilateral tende a ser uma realidade inescapável.
O candidato Sergio Massa saiu dos quadros do governo para a oposição e conta com a assessoria de alguns dos melhores quadros da diplomacia profissional argentina. É gente que acredita ser hora de jogar mais duro com Brasília em temas de comércio, política sul-americana e diplomacia nuclear, três pontos de constante irritação.
O mecanismo proposto pelo governo brasileiro, por si só, não mudará essa realidade, mas poderá ajudar a conter os problemas mais difíceis. É uma medida inteligente que a Argentina faria bem em aceitar.
A iniciativa chega na melhor hora. A crise econômica brasileira já começou a gerar incerteza política e a promessa de tensão social no país vizinho, que tem seis meses de disputa presidencial pela frente. Em Buenos Aires, espera-se que a relação diplomática entre os dois países piore antes de melhorar.
Se Cristina der sinal verde à proposta brasileira, o trabalho será intenso, porque implementar um esquema dessa natureza não é fácil.
Um motivo é estrutural: os dois países veem o mundo de modo muito diferente e, em diversas áreas, competem entre si. Não à toa, o lulismo acumulou frustrações recorrentes com o kirchnerismo, apesar das faixas de coincidência entre os projetos políticos de um e outro.
Outro motivo é conjuntural. O kirchnerismo concentrou a política externa num pequeno núcleo de pessoas vinculadas pessoalmente a Cristina. A chancelaria apita pouco, e há jovens embaixadores em postos-chave com pouca ou nenhuma experiência prévia além da militância peronista. O cenário para a diplomacia profissional é desolador.
O futuro político também gera dúvidas. Diante das câmaras, todo candidato presidencial à sucessão de Cristina promete trabalhar em parceria com o Brasil. No entanto, não é isso o que se ouve em off.
Conversando semana passada com gente das campanhas, ouvi falar do Brasil como país "inevitável" ou "indispensável", mas nunca como "amigo" ou sinônimo que o valha.
Daniel Scioli, candidato oficialista, viajou a São Paulo para tirar uma foto de campanha com Lula. Entre seus assessores, há diferenças. Uns querem aproximação com o Brasil para conter os efeitos da crise. Outros, oriundos do menemismo da década de 1990, lembram as dificuldades de operar com a Esplanada dos Ministérios.
Mauricio Macri, principal candidato oposicionista, é abertamente duro com o Brasil. Para ele, o intervencionismo estatal do lulismo contaminou o debate público argentino. Se ganhar, não arrebentará a relação bilateral porque poderosos interesses privados que o apoiam investem pesado numa boa relação com o Brasil. Mas a fricção bilateral tende a ser uma realidade inescapável.
O candidato Sergio Massa saiu dos quadros do governo para a oposição e conta com a assessoria de alguns dos melhores quadros da diplomacia profissional argentina. É gente que acredita ser hora de jogar mais duro com Brasília em temas de comércio, política sul-americana e diplomacia nuclear, três pontos de constante irritação.
O mecanismo proposto pelo governo brasileiro, por si só, não mudará essa realidade, mas poderá ajudar a conter os problemas mais difíceis. É uma medida inteligente que a Argentina faria bem em aceitar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário