ANÁLISE, Folha de SP. 17/1/2013
Muitos irão culpar a Câmara dos Representantes (deputados), controlada pelos republicanos.
Mas as chances de o Senado aprovar as medidas não são muito melhores, apesar da maioria democrata.
Os democratas, com 55 votos o Senado, precisam de mais cinco republicanos para evitar uma obstrução, e isso parece quase impossível.
Mesmo se houvesse apoio de alguns senadores republicanos, o maior controle de armas dificilmente teria o apoio de senadores democratas de Estados conservadores, que devem candidatar-se à reeleição em 2014.
Independentemente de como os americanos estejam vendo o controle de armas neste momento, pesquisas indicam que é provável que eles sejam pelo menos parcialmente influenciados por seus líderes partidários.
O instituto de pesquisas Pew Research constatou que os americanos que possuem armas de fogo e os que priorizam o direito de portar armas têm mais chances de dizer que o Partido Republicano reflete melhor suas posições sobre o assunto.
Além disso, os americanos que são contra o controle de armas têm mais probabilidade de serem politicamente ativos que os americanos a favor do controle.
Segundo o Pew, os que são contra o controle têm 17% mais probabilidade de contribuir com dinheiro para campanhas, contatar uma autoridade pública, assinar uma petição ou expressar uma opinião sobre o tema numa rede social.
É improvável imaginar, por exemplo, um senador de um Estado conservador, especialmente um em que o número de armas por família seja superior à média nacional, querendo contrariar as forças pró-armas.
Uma análise inteligente, portanto, diz que as chances de o Congresso aprovar uma legislação séria de controle de armas diminuem a cada dia que passa.
'É difícil aprovar plano antiarmas', diz Obama
Presidente dos EUA baixa 23 decretos de controle, mas medidas mais importantes precisam passar pelo Congresso
Entre as propostas estão banir venda de armas de grande poder de fogo e endurecer checagem de antecedentes criminais
A grande expectativa criada sobre o plano do presidente, no entanto, esmoreceu diante dos 23 decretos de pouco impacto real -assinados na sequência do discurso e que já entram logo em vigor.
As propostas mais importantes, como obrigar a consulta de antecedentes para qualquer venda de armas, proibir armas com "características militares" -como mira telescópica-, e limitar a capacidade das armas a dez cartuchos (tiros), terão de passar pelo aval de um dividido Congresso.
Nos EUA, o pacote foi apresentado como a iniciativa de controle de armas mais importante em décadas, mas as medidas são tímidas na comparação com outros países.
O presidente admitiu a dificuldade para aprovar as medidas. "Será difícil. Haverá especialistas, políticos e lobistas alertando contra um assalto tirânico à liberdade", declarou ele, que conclamou os americanos a pressionar os parlamentares.
"Eles precisam levar essas propostas a votação, e o povo americano precisa assegurar que eles façam isso", disse.
Entre as medidas que precisam do Congresso estão ainda a aprovação de nova lei de tráfico de armas -com penas mais duras para os envolvidos no crime.
Obama pediu ainda US$ 10 milhões para que o Centro de Controle de Doenças desenvolva pesquisas sobre a relação entre videogames, imagens na mídia e a violência.
MENOS POLÊMICA
Os 23 decretos assinados por Obama, a cinco dias da posse para seu segundo mandato, não tratam dos temas mais polêmicos no debate sobre o controle de armas.
Entre as medidas que passam a valer sem a aprovação do Congresso estão novas regras para disponibilizar no sistema federal dados de antecedentes de compradores e a orientação a profissionais de saúde de que podem relatar às autoridades ameaças de violência de pacientes.
As propostas têm por base as discussões realizadas por grupos de trabalho criados a partir do massacre em Newtown, em dezembro passado, no qual morreram 20 crianças.
Obama apelou ao "senso comum" de que é preciso checar os antecedentes de compradores de uma arma. Hoje, a checagem é regra, mas há exceções para feiras de armas, onde 40% são adquiridas.
"A grande maioria dos americanos concorda sobre a necessidade de consulta aos antecedentes -incluindo mais de 70% dos membros da Associação Nacional do Rifle [NRA, lobby pró-armas]." A associação criticou as propostas. "São os proprietários de armas honestos que serão afetados", disse em nota.
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