17 de janeiro de 2013

Comitê olímpico quer barrar termo 'olimpíada' em torneio educacional



Em carta aberta, associações de cientistas do país classificam a ação como "despropositada"
COB afirma que notificações enviadas à Unicamp e a outras instituições de ensino têm "caráter educativo"
27.ago.2012 - Daniel Marenco/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff em premiação de olimpíada de matemática no Rio, em 2011
A presidente Dilma Rousseff em premiação de olimpíada de matemática no Rio, em 2011
GIULIANA MIRANDAMARIANA VERSOLATODE SÃO PAULOO COB (Comitê Olímpico Brasileiro) está se movimentando juridicamente para impedir que universidades e associações de pesquisa usem a palavra olimpíada em suas competições educacionais. A atitude provocou protestos das principais associações de cientistas do país.
No fim de 2012, a Unicamp foi notificada extrajudicialmente pelo comitê devido ao uso supostamente indevido do termo em um dos eventos organizados pela instituição, a Olimpíada Nacional em História do Brasil.
O texto diz que o uso das palavras olimpíada e jogos olímpicos "é privativo" dos comitês Olímpico e Paraolímpico do Brasil.
Organizadores de várias outras olimpíadas educacionais, como a de português e de astronomia, receberam notificações semelhantes.
Em carta aberta enviada nesta semana a Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e a ABC (Academia Brasileira de Ciências) classificaram a ação como "despropositada". No Brasil existem cerca de 20 olimpíadas educacionais nacionais.
REAÇÃO
A presidente da SBPC, Helena Nader, disse que os cientistas não vão abrir mão do uso da palavra.
"Eles [o COB] estão querendo ter o monopólio da palavra e isso nós não aceitamos. Olimpíada científica é um conceito internacionalmente consagrado. A sua proibição aqui só é prejudicial para o conhecimento", afirmou.
Jacob Palis, presidente da ABC, lamentou a iniciativa em um momento em que o Brasil é destaque na área.
"Nós recebemos, no ano passado, a Olimpíada Mundial de Astronomia. Agora há pouco, tivemos um jovem brasileiro [Matheus Camacho, 14] ganhando uma medalha de ouro em uma das maiores competições do mundo, a Olimpíada Internacional de Ciência. A decisão do COB é equivocada", disse.
A Unicamp afirmou que continuará usando o termo para designar a competição.
Para Mônica Guise Rosina, professora de propriedade intelectual da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, a notificação sobre a exclusividade do termo é "tecnicamente possível, mas absolutamente descabida".
"Essa terminologia já é usada há anos para as competições científicas. O problema seria se houvesse o risco das pessoas confundirem um evento com o outro."
OUTRO LADO
Em nota, o Comitê Olímpico Brasileiro afirmou que as cartas enviadas às instituições de ensino têm "caráter educativo", para garantir que "o termo 'olimpíadas', que é uma propriedade do COI (Comitê Olímpico Internacional), não seja vinculado a questões comerciais", completa.
A entidade disse à Folha que estuda autorizar o uso do termo para fins educacionais, como é o caso da olimpíada organizada pela Unicamp.
De qualquer modo, para evitar problemas, algumas competições já abandonaram o termo. É o caso da antiga Olimpíada Brasileira de Foguetes que, após ser notificada pelo COB, virou Mostra Brasileira de Foguetes.
"Já temos trabalho demais para montar os eventos. Não dispomos de tempo e dinheiro para ficar brigando com o COB", diz João Bastista Canalle, organizador da mostra.
A decisão do COB contraria os ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação, que realizam olimpíadas educacionais. O ministério da Ciência disse, porém, não ter recebido qualquer notificação do COB.
Só a Olimpíada Brasileira de Matemática nas Escolas Públicas teve, em 2012, quase 20 milhões de inscritos.

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