Espírito Santo é o 2º estado onde mais se morre por arma do fogo no país.
São 39,4 assassinatos por 100 mil habitantes, aponta Mapa da Violência.
Ramon Cristian, de 24 anos, foi morto com cinco
O levantamento Mapa da Violência 2013, divulgado nesta quarta-feira (6), pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, apontou o Espírito Santo como o segundo estado com as mais altas taxas de homicídios por arma do fogo. São 39,4 assassinatos por 100 mil habitantes. O primeiro estado no ranking é Alagoas.
Além disso, Vitória é a terceira capital onde mais se mata com arma no Brasil. Segundo os dados, são 60,7 homicídios por 100 mil habitantes. A capital capixaba está atrás apenas de João Pessoa, na Paraíba, (71,5 mortes por 100 mil habitantes) e Maceió, em Alagoas, (94,5 assassinatos por 100 mil habitantes). Os dados são referentes a 2010.
Diariamente, famílias choram a morte de parentes vítimas da violência. O jogador capixaba e da seleção brasileira de futebol de areia Antônio Eduardo Oliveira, de 40, conhecido comoDuda, teve o irmão assassinado no bairro Santo Antônio, em Vitória. Ramon Cristian, de 24 anos, foi morto com cinco tiros em agosto de 2012.
O jovem estava em uma lanchonete, tomando açaí, quando dois homens chegaram em uma moto e, um deles, efetuou os disparos. Duda estava com o irmão minutos antes do assassinato e chegou a ouvir o barulho dos tiros. "A minha família não consegue entender o ocorrido. Ninguém nunca imaginou passar por isso", contou o jogador.
O pior é a impunidade. Você vê as coisas acontecendo e nada é feito",
Duda, irmão da vítima
O suspeito pela morte do jovem, chegou a ser preso, mas foi solto. A Secretaria Estadual de Justiça (Sejus) informou que está realizando buscas para localizar o suspeito. Disse ainda que foi aberto pela corregedoria um procedimento administrativo para apurar o ocorrido e como foi a atuação dos servidores na ocorrência.
A soltura do suspeito deixou os familiares de Ramon indignados. "O pior dessa história é a impunidade. Você vê as coisas acontecendo e nada é feito", desabafou o irmão.
Para o especialista em Política Públicas, Roberto Garcia Simões, o Espírito Santo está no topo do ranking da violência no país devido ao desaparelhamento das instituições públicas. "A violência está disseminada em todo o território capixaba porque os investimentos em políticas sociais sempre foram pequenos. Além disso, o estado tem forte influencia de 'gangues' que comandam o tráfico de drogas e muitos homicídios estão relacionados aos entorpecentes", relatou Simões.
Outro problema apontado pelo especialista é a falta de investimento na polícia capixaba. "O efetivo está completamente defasados e já não atende às necessidades da sociedade. Com isso, não temos muita presença de policiais em regiões violentas da região metropolitana da Grande Vitória", defendeu o especialista.
O atual secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, era quem estava a frente da secretaria em 2010. Ele admite que durante anos faltou investimento do governo na área de segurança. "Há dois anos, 30 bairros da Grande Vitória concentravam 50% dos homicídios da região metropolitana. Nesses locais não se tinha o número suficiente de policiais para dar segurança à população. Além disso, faltou também investimentos em infraestrutura: iluminação pública, pavimentação, esporte e lazer", diz.
Segundo ele, baseado no levantamento do Mapa da Violência, o governo começou a montar uma estratégia para reduzir o número de homicídios nas regiões mais violentas da Grande Vitória. O programa Estado Presente pretende diminuir os indicadores de violência na região metropolitana.
De acordo com o secretário de Segurança Pública, os resultados começam a aparecer. "Em 2009, a taxa de homicídios por arma de fogo no Espírito Santo era de 58 por 100 mil habitantes. Em 2012, a taxa caiu para 46 mortes por 100 mil habitantes. Não temos o que comemorar, já que os números são altos, mas temos certeza que estamos no caminho certo", afirmou André Garcia. Este ano, os indicadores de violência foram 9% menores que no mesmo período do ano passado.
Patrícia Araújo estava dentro do carro com um amigo. Ao estacionar, o rapaz passou em cima do pé de um traficante. Ele atirou contra o veículo e acertou a jovem. (Foto: Arquivo Pessoal)
Violência contra a mulher
Quando se trata de violência contra a mulher, o estado é o primeiro no ranking. São 5,6 mortes para cada 100 mil habitantes. A auxiliar técnica Priscila Araújo perdeu a irmã em um assassinato na cidade de Serra, na Grande Vitória, em março de 2008. Patrícia Araújo tinha 22 anos. Ela estava dentro de um carro com um amigo. Ao estacionar, o rapaz passou em cima do pé de um traficante. Ele atirou contra o veículo e acertou a jovem. Patrícia trabalhava em uma loja e cursava o terceiro período de administração. "A falta dela é muito presente. Perdê-la foi muito difícil", desabafou Priscila.
Quando se trata de violência contra a mulher, o estado é o primeiro no ranking. São 5,6 mortes para cada 100 mil habitantes. A auxiliar técnica Priscila Araújo perdeu a irmã em um assassinato na cidade de Serra, na Grande Vitória, em março de 2008. Patrícia Araújo tinha 22 anos. Ela estava dentro de um carro com um amigo. Ao estacionar, o rapaz passou em cima do pé de um traficante. Ele atirou contra o veículo e acertou a jovem. Patrícia trabalhava em uma loja e cursava o terceiro período de administração. "A falta dela é muito presente. Perdê-la foi muito difícil", desabafou Priscila.
Outro tipo de violência presente na vida das capixabas é a violência doméstica. Em 2012, a Delegacia da Mulher recebeu 7500 denúncias de agressões físicas e psicológicas. Muitas mulheres carregam marcas dessa violência no corpo. A auxiliar de serviços gerais Fabíola Profeta, de 48 anos, lembra com tristeza do dia que o marido jogou água quente sobre o corpo dela.
Fabíola passou 20 dias internada em um hospital da Grande Vitória. "Era madrugada, eu estava dormindo. De repente, me assustei com ele ao meu lado. Meu ex-marido despejou água quente sobre meu corpo. Foi horrível. Não consegui pedir ajuda a ninguém", relata.
Para ajudar mulheres vítimas da violência doméstica, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo em parceria com a Prefeitura de Vitória lançaram o Botão do Pânico. O aparelho, ao ser acionado, manda um sinal de alerta a uma Central de Atendimento, que encaminha até a vítima uma viatura da polícia.
Inicialmente, o projeto irá contemplar 100 mulheres da capital capixaba, mas a intenção é ampliar para os outros municípios da região metropolitana. "É um projeto piloto. Os testes superaram nossas expectativas. Começamos por Vitória, mas outras cidades já demostraram interesse em adquirir o aparelho. É uma esperança para mulheres que sofreram ameças e agressões graves", disse a juíza Hermínia Azoury, coordenadora da Vara da Violência Doméstica. O projeto entra em vigor em 30 dias.
O assassinato de negros também põe o Espírito Santo entre os três primeiros do país, atrás apenas de Paraíba, com 51,2 homicídios por 100 mil habitantes, e Alagoas, com 66,3 mortes por 100 mil habitantes
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