24 de dezembro de 2014

Enem mostra distorções ainda grandes no ensino




O perfil de proficiência no ensino no país, que resultou do recente Enem, a mais abrangente, por seu caráter nacional, porta de entrada na Universidade brasileira, comprovou não apenas que a Educação no Brasil prepara mal os estudantes para o ensino superior. Revelou-se também um novo dado, preocupante tanto pelo viés da formação dos alunos quanto pelo aspecto socioeconômico: a discrepante realidade entre o ensino nas regiões mais desenvolvidas, o Sudeste à frente, e as escolas das áreas mais carentes.
Configurou-se o óbvio: os colégios mais pobres obtiveram as piores notas no exame. Apenas por comparação, a Escola Estadual de Ensino Médio de Auiaba, no Ceará, a mais bem colocada nesse estrato social e econômico pela média das notas objetivas, aparece na posição 11.104 do ranking geral organizado pelo Inep, que pela primeira vez divulgou notas do Enem por escola com estratificação nos níveis socioeconômicos.
Dividido entre 1 e 7 (do mais baixo ao mais alto), esse critério influencia diretamente o retrato do desempenho dos colégios na prova nacional. Esse método de aferição consagrou uma renitente tendência, a da supremacia da rede particular, que em geral atende alunos de estratificação mais alta, sobre a pública no Ensino Médio. Os 20 primeiros lugares desse ranking são dominados por 18 colégios de faixa econômica muito alta e dois da alta.
A tabela é significativa também pelo seu reverso. Entre as 71 escolas que figuram na lista de nível socioeconômico mais baixo, 69 são públicas. A diferença de pontuação entre a escola de Aiuaba, que abre a lista das mais bem colocadas entre as unidades de baixa estratificação, e a primeira colocada no ranking geral é de abissais 331,23 pontos.
Há outros indicadores da discrepância da qualidade do ensino determinada pelas faixas de renda: a Região Sudeste concentra 77 das cem escolas com melhor desempenho no Enem. Desse Top 100, 93 são colégios particulares. Das sete públicas, seis são federais e uma é estadual. No ranking geral, o colégio de rede oficial mais bem posicionado (o CAP da Universidade Federal de Viçosa, em Minas) ocupa a 13ª colocação.
É um painel que revela grandes distorções na maneira como o Estado trata o problema da Educação. Mudar esse quadro, por óbvio, é tarefa complexa, que exige mudanças radicais de rumo, investimentos estruturais e políticas de longo prazo. Mas há, à mão, diagnósticos para ajudar na formulação de ações mais imediatas. O recente Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), termômetro da formação educacional nas faixas anteriores ao Ensino Superior, mostrou que o Ensino Médio estacionou na mesma pontuação de três anos atrás, abaixo da meta projetada pelo MEC para 2013. Eis uma das grandes demandas, a serem atacadas com urgência, que ajudam a explicar a razão das ainda grande distorções no ensino do país.

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