17 de outubro de 2017

Com evasão escolar empacada, país levaria 200 anos para incluir jovens





O Brasil não tem conseguido colocar todos os jovens na escola e, mantendo o ritmo de expansão da escolaridade dos últimos 15 anos, levaria 200 anos para universalizar o atendimento.
Dados de 2015, os mais recentes disponíveis, mostram que 22% dos jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola. O índice é similar ao registrado em 2000, quando eram 25%, segundo estudo do economista Ricardo Paes de Barros.
Eduardo Anizelli/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 16-10-2017, 10h40: Retrato de Jonathan Ribeiro Moraes da Silva, 23, em sua casa em Guaianases, zona leste de Sao Paulo. Reportagem repercute o alto indice de jovens de 15 a 17 anos que ja precisaram largar a escola. Jonathan, que ao saber que a namorada estava gravida, precisou trabalhar e nao conseguiu conciliar as aulas. Aos 23 anos, ainda nao conseguiu voltar para concluir os estudos. (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, COTIDIANO) ***EXCLUSIVO***
Jonathan Ribeiro da Silva, 23, que largou a escola para trabalhar após a gravidez da namorada
Na comparação internacional, o Brasil vem perdendo posições. Enquanto na virada do milênio 43% dos países tinham resultados melhores que o Brasil, atualmente mais de 55% encontram-se nessa situação. Ou seja: têm um percentual menor de jovens fora da escola.
Essa faixa etária é a ideal para o ensino médio, etapa considerada um dos maiores gargalos da educação brasileira. Mas 56% dos jovens de 15 a 17 anos hoje na escola estão atrasados, ainda no ensino fundamental. Além disso, mais da metade dos que já abandonaram o fizeram antes de chegar ao ensino médio.
O estudo faz um balanço da realidade dos jovens que perdem o engajamento da escola e joga luz aos motivos, além de refletir sobre os custos para a sociedade.
De todos os 10,3 milhões de jovens brasileiros com idade entre 15 e 17 anos registrados em 2015, cerca de 1,5 milhão nem sequer se matricularam na escola no início do ano. Outros 1,9 milhão até se inscreveram, mas abandonaram a escola antes do fim do ano ou foram reprovados.
O volume de abandono e reprovação representa um custo estimado de R$ 7 bilhões por ano para o país. "Trata-se de um enorme desperdício de recursos, uma vez que esse gasto precisará ser realizado novamente no ano seguinte quando esses mesmos jovens, caso não evadam, retornarem à escola para cursar a mesma série", aponta o estudo, organizado pelo Insper, Fundação Brava, Instituto Ayrton Senna e Instituto Unibanco.
CUSTOS
Mas o custo maior será para aqueles que não terminam a escola, como pontua também o documento. A remuneração ao longo da vida de uma pessoa com ensino médio pode ser, por exemplo, entre 17% e 48% maior que a daquela com o mesmo perfil, mas com escolaridade até o ensino fundamental. Outros índices de qualidade de vida, como saúde e planejamento familiar, também são desfavoráveis, segundo Paes de Barros.
A equipe do pesquisador elencou os principais fatores determinantes para o abandono da escola, divididos em três dimensões: externas à escola (como pobreza, violência, gravidez), internas à escola (qualidade no ensino, clima escolar) e relacionada aos próprios jovens (baixa resiliência).
Ainda elencou ações educacionais já existentes nos colégios –iniciativas das redes ou de organizações não governamentais– e que atuam para cada tipo de desafio. "Cada jovem abandona por um motivo e é necessário um conjunto de ações para combater a evasão e acolher o jovem", afirma Paes de Barros, que é economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper.
Segundo o estudo, a sociedade deveria estar disposta a gastar o dobro do que atualmente investe por aluno do ensino médio –hoje na casa de R$ 4.000 por ano por aluno. Considerando o total de alunos afetados, a pesquisa calcula que o país precisaria de mais R$ 98 bilhões. Hoje, investe-se no ensino médio cerca de R$ 65 bilhões ao ano.
Mirela Carvalho, gerente de Gestão de Conhecimento do Instituto Unibanco, lembra que intervenções focadas precisam ser articuladas com os entraves sistêmicos. "Carregamos uma série de desafios que chegam no ensino médio, como problemas de disponibilidade de escola, carência de professores, absenteísmo e infraestrutura."
A obrigatoriedade de matrículas dessa faixa etária foi incluída na Constituição somente em 2009, quando se estipulou o prazo final para 2016. Esse limite foi reafirmado na lei do PNE (Plano Nacional de Educação), de 2014, mas não foi atingido.
Para o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, a orientação recente da política educacional brasileira, com a centralidade do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), criado em 2007, esvaziou a pressão dos gestores para universalização da educação.
"Quem está fora da escola são as pessoas com maior vulnerabilidade, que não têm voz no debate público", diz. "E os gestores públicos não têm como princípio a universalização de matrículas porque, se ele buscar incluir, os índices vão cair", completa, relacionando os índices educacionais ao nível socioeconômico dos alunos.
A recente reforma do ensino médio anunciada pelo governo Michel Temer não é citada no leque de ações possíveis. Entretanto, a flexibilidade curricular –ampliada com a mudança–é apontada como estratégia para melhorar o engajamento dos alunos. "Ela pode dar significado à escola, mas depende de como será implementada", afirma Paes de Barros.
TRABALHO É PRINCIPAL CAUSA
Jonathan Ribeiro da Silva já tinha 18 anos e estava no 2º ano do ensino médio quando descobriu que a namorada estava grávida. Quatro meses depois, com a expectativa de precisar sustentar uma criança, trocou a sala de aula por um trabalho como metalúrgico. A mãe de seu filho, de quem ele já é separado, também parou de estudar.
O trabalho tomava toda a tarde e a noite. O jovem estudava à noite e, na escola estadual onde estava, em Guaianases, zona leste, não teve oportunidade na época para se transferir para a manhã. "Eu gostava da escola, sinto saudades, era um momento de aprendizagem e poderia ter mais oportunidade e um emprego melhor", diz.
Hoje, aos 23 anos, Jonathan trabalha como gari e ainda não conseguiu retornar à escola. "Não consigo conciliar, é muito cansaço", afirma. "Mas ainda vou voltar", completa ele, que diz incentivar o filho, hoje de 4 anos, a estudar. "Ele adora."
Quase 60% dos jovens veem a necessidade de trabalhar como a causa principal para terem abandonado a escola, segundo pesquisas citadas no estudo de Paes de Barros. "O conflito entre escola e trabalho, em particular no ensino médio, cresce de forma acentuada com a idade", afirma o levantamento.
A necessidade de fazer renda também afastou da escola Vinicius Vieira Soares da Silva em 2015. Precisava ajudar a mãe com as contas de casa e, no 3º ano do ensino médio, deixou de estudar.
"Comecei a trabalhar e chegava tarde. Como a entrada na escola era às 19h, não dava", diz, hoje aos 18 anos. Silva foi trabalhar numa fábrica de camas e hoje trabalha em instalação de box de banheiro. "Espero poder voltar a estudar". 



TERÇA, 17/10/2017, 00:01,CBN

Quase três milhões de jovens decidem abandonar a escola anualmente no Brasil

Um levantamento do Instituto Ayrton Senna, do Insper, da Fundação Bravo e do Instituto Unibanco revela que a saída desses alunos gera um prejuízo de R$ 35 bilhões ao país. Os principais motivos para a evasão escolar são a qualidade de ensino, o clima do ambiente escolar e a baixa resiliência emocional.

  • DURAÇÃO: 00:03:19
  •  
  •  
  •  
  •  
  •  

  • Copie o código abaixo para usar no seu site:
    Código copiado!
Alunos de Nova Iguaçu (RJ) assistem a aula de matemática. (Crédito: Ministério do Desenvolvimento/Flickr)
Alunos de Nova Iguaçu (RJ) assistem a aula de matemática.
Crédito: Ministério do Desenvolvimento/Flickr
Por Juliana Prado
Ao menos 27% dos jovens - ou 2,8 milhões de alunos - com idades entre 15 a 17 anos, não vão se matricular no início do ano letivo de 2018 ou porque abandonaram os estudos ou porque foram excluídos da escola pela reprovação.
Dados divulgados pelo Instituto Ayrton Senna e pela instituição de ensino,o Insper, mostram que apenas pouco mais da metade dos jovens de 15 a 17 anos concluirá o Ensino Médio com no máximo um ano de atraso. O resultado disso é o desperdício de R$ 35 bilhões por ano aos cofres públicos.
O custo de cada aluno para os três anos de Ensino Médio é de cerca de R$ 12 mil. Mas, ao abandonar a escola, o valor do custo sobe, já que, segundo o estudo, o aluno está mais suscetível a problemas com violência e saúde quando está fora da escola.
Para Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor no Insper, que conduziu a pesquisa, há um prejuízo para o país quando um aluno deixa a escola.
'Qualquer medida de evasão está muito acima do que se gasta com o Ensino Médio. O custo de não combater a evasão é muito maior do que o de combatê-la', explica Ricardo.
O estudo também identifica e classifica as 14 principais razões para o desengajamento dos estudantes. Entre os fatores estão: impedimentos externos, como acesso limitado ou impossibilidade física, falta de interesse, qualidade do ensino, clima do ambiente escolar e quando a decisão de sair da escola é tomada sem a devida reflexão.
Para a pesquisadora de Educação e comentarista da CBN Ilona Becskeházy, a qualidade do ensino é fundamental para manter o estudante na escola:
'À medida em que o aluno vai crescendo, ele começa a perceber que não está aprendendo e aumenta a concorrência com outras coisas que ele faz fora da escola. Elas podem tirar a atenção se a escola não mostrar qualidade. Todo os dias, as escolas devem ter alguma coisa interessante acontecendo e um engajamento sério e aprofundado no aprendizado. Para isso, o currículo é muito importante', afirma Ilona.
A pesquisa conclui que no atual ritmo de evolução da taxa de inclusão de jovens no Ensino Médio, o Brasil levará 200 anos para atingir a meta do Plano Nacional de Educação, que é a universalização do atendimento escolar a toda a população de 15 a 17 anos. Mas, se o ritmo for semelhante ao dos países da Ásia Ocidental - os que avançaram mais rapidamente neste quesito - isso poderia ocorrer em 2030, com quase 14 anos de atraso em relação à meta prevista no Plano Nacional de Educação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário