30 de outubro de 2017

Educação: Poucas letras e números


EDITORIAL

Diego Padgurschi - 27.mar.2017/Folhapress
Aluna do primeiro anos do ensino fundamental do colégio Santa Amália usa caderno de português
Aluna do primeiro ano do ensino fundamental do colégio Santa Amália em aula de português

A ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização ) aplicada em 2016 aos terceiranistas de ensino fundamental confirma que a rede pública ainda padece de anemia crônica. Não houve avanço em relação à edição anterior, de 2014.
O Ministério da Educação usa quatro níveis para categorizar os alunos –elementar, básico, adequado e desejável– e considera os dois primeiros como insuficientes.
Participaram da ANA mais de 2 milhões de crianças. Em novembro do ano passado, quando a avaliação se realizou, 90% desses meninos e meninas tinham oito anos de idade (limite etário para alfabetização, segundo meta do Plano Nacional de Educação) ou mais.
Apesar disso, mais da metade tem desempenho em leitura e matemática classificado como insuficiente. No primeiro caso, 55% dos alunos carecem da capacidade de identificar, por exemplo, informação explícita no texto de uma lenda ou de uma cantiga folclórica.
Na ANA anterior, eram 56%. A diferença de apenas um ponto percentual indica que há estagnação, em patamar inadmissível. A situação só se mostra ligeiramente melhor no campo da escrita, com 58% no nível adequado.
Na matemática, contudo, a taxa de insuficiência de 55% se repete. Nossos estudantes são fracos nas letras e também nos números.
Sobressai, por chocante, a parcela diminuta dos que obtiveram resultado tido como desejável –em leitura, 13%, e em escrita, 8%.
Os 27% alcançados em matemática surpreendem. Vale investigar se por trás da cifra está a revalorização da disciplina na esteira da Olimpíada Brasileira de Matemática, que abarca quase 1 milhão de jovens, em praticamente todos os municípios do país, e põe foco num ensino mais consistente desde as primeiras séries.
Os números gerais ocultam, entretanto, uma disparidade regional duplamente acabrunhante.
Primeiro, porque há Estados com 75% de insuficiência ou mais, como Sergipe, Amapá, Maranhão, Pará e Alagoas. Depois, porque os relativamente desenvolvidos Sul e Sudeste exibem níveis baixíssimos de desempenho desejável -12% em escrita, basta mencionar.
A educação pública, pois, continua péssima nos Estados mais pobres e muito ruim nos mais ricos. Não há aí surpresa, pois em dois anos não se pode fazer uma revolução do ensino; desaponta, porém, nem sequer notar melhora incremental.
Quem sabe a partir de agora, com a finalização da base curricular nacional, governantes, diretores, mestres e pais adquiram maior clareza sobre o mínimo que as crianças têm o direito de aprender nas salas de aula e em casa. 

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