Foha de S.Paulo, 17/8/2013
A contribuição de agentes interessados em relações internacionais não deve ser menosprezada
CONHECI Matias Spektor, colunista da Folha, em Washington, faz alguns anos, em um seminário sobre o Brasil. No meio daquela conversa antiga de brasilianistas arcaicos, foi refrescante ouvir alguém cuja visão fugia do estereótipo.Recentemente, Spektor escreveu sobre a importância de que a sociedade civil possa participar mais ativamente do processo de elaboração da política externa brasileira.
Eu concordo com ele.
A política externa pode parecer um conceito abstrato e distante, mas é política pública como qualquer outra. Lança os objetivos econômicos, políticos e estratégicos que um país quer alcançar no plano internacional. Também defende e promove princípios e valores.
Realiza-se em capitais distantes e é discutida em línguas estrangeiras. Ainda assim, deve projetar a nacionalidade e ser executada em nome dos cidadãos.
Por isso, como convém à boa política pública, seus objetivos têm de se acoplar ao projeto mais amplo de desenvolvimento econômico e social que cada governo formula. A ideia é, tanto quanto possível, conciliar interesses nacionais específicos com a paz e a prosperidade de toda a comunidade global.
Nada mais natural, portanto, que, numa democracia, diferentes setores da sociedade possam participar na identificação desses objetivos.
No Brasil, em diversas ocasiões, a sociedade civil contribuiu para definir linhas da ação diplomática. É reconhecida a participação dos ativistas de direitos humanos e ambientalistas nas Conferências de Durban (2001) e, mais recentemente, na Rio +20 (2012). Muitas vezes, porém, essa participação se dá de maneira informal, mais por boa vontade do agente público do que por obrigação institucional.
Em sua coluna, Matias Spektor mencionou que o Itamaraty resolvera criar em sua estrutura um foro permanente para diálogo com a sociedade civil. A ideia seria democratizar e dar mais legitimidade à política externa.
Na longa história do órgão, é a primeira vez que se estabelece um mecanismo dessa natureza. Trata-se de evolução institucional importante cujo objetivo, em última análise, é aproximar a política externa do cidadão comum.
A consolidação da democracia transforma a ação diplomática. A tecnologia, também. Não há como falar de democratização da política externa sem mencionar as mídias sociais. Tornaram-se um canal de contato direto com a população, pelo qual o formulador mostra seu trabalho e convida a opinião pública, nacional e internacional, a comentar sobre sua atuação.
Com isso, passa a contar com a possibilidade de quantificar e analisar dados de seu Ibope particular.
A contribuição de especialistas e agentes interessados em relações internacionais --seja em foro institucionalizado, debates acadêmicos ou mensagens de Facebook-- não deve ser menosprezada.
O debate tem de ser inclusivo e diverso. O desafio democrático que caberá à política externa --e a seu formulador-- será atingir e expressar o equilíbrio dessa diversidade.
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