17 de agosto de 2013

Berkeley: A educação americana no olhar de Frederick Wiseman


  • Com quatro horas de duração, ‘At Berkeley’estreiaem Veneza neste mês e já está garantido para o Festival do Rio
ANDRÉ MIRANDA(EMAIL·FACEBOOK·TWITTER)
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Durante 12 semanas, o diretor americano Frederick Wiseman teve livre acesso a corredores e salas da Universidade de Berkeley
Foto: Divulgação
Durante 12 semanas, o diretor americano Frederick Wiseman teve livre acesso a corredores e salas da Universidade de Berkeley Divulgação
RIO - Durante 12 semanas de 2010, um senhor de 83 anos dividiu o campus da tradicional Universidade de Berkeley, na Califórnia, com alunos, professores e demais funcionários. Ele teve acesso livre a aulas e reuniões, pôde acompanhar protestos e apresentações musicais e fez desse material um documentário de quatro horas, mais um de seus cerca de 40 filmes, num conjunto que faz de Frederick Wiseman um dos mais celebrados cineastas americanos em atividade, notório por obras como “Titicut follies” (1967) e “Near death” (1989).
O novo documentário de Wiseman, intitulado “At Berkeley”, terá sua estreia mundial no Festival de Veneza, que começa no dia 28 deste mês, depois passará pelo Festival de Toronto (de 5 a 15 de setembro), até chegar ao Festival do Rio, cuja abertura está marcada para 26 de setembro. O interesse é tão grande pelo filme quanto pela carreira de Wiseman, por se tratar de um mergulho numa instituição pública de ensino americana em meio à crise econômica vivida pelos EUA e também em meio às discussões acerca de como deve ser o financiamento universitário no país.
Sobre temas como esses, e também sobre o olhar equilibrado que costuma impôr em seus documentários, o diretor conversou com O GLOBO, por telefone, de sua casa, em Boston.
O senhor sempre diz em entrevistas que não gosta de explicar seus filmes. Por quê?
É porque eu acho que os filmes são autoexplicativos. Minha tarefa é fazer com que o filme seja o melhor possível, e, se ele funcionar, não será necessária uma explicação.
Mas há uma ideia por trás da história, não? Por exemplo, o senhor explicaria a ideia por trás de “At Berkeley”?
A questão é que não é necessário. Ao assistir ao filme, você terá quatro horas para enxergar as muitas ideias presentes ali. A única ideia que tive, e que tenho em todos os meus filmes, é que, se eu passasse um tempo em Berkeley, conseguiria fazer um bom filme. Se eu conseguisse explicar para você tudo o que está no filme em 25 palavras, isso significaria que não deveria ter feito o filme. Bastaria publicar essas 25 palavras.
Como a direção de Berkeley recebeu a ideia do documentário num momento delicado como o que as universidades americanas passavam em 2010?
Eu simplesmente escrevi uma carta para o reitor, e marcamos um almoço. Expliquei o que queria fazer, e ele aceitou. A partir daí, pude filmar tudo o que quisesse. Houve apenas um único evento no qual não me deixaram entrar, que foi uma reunião para captação de verbas. Eles ficaram preocupados que a câmera pudesse incomodar as pessoas para quem estavam pedindo dinheiro.
Mas, ainda assim, muitos dos debates que aparecem no documentário lidam justamente com a crise econômica e o financiamento universitário. Qual o senhor acredita ser, neste momento,o principal desafio de uma instituição como Berkeley?
Há alguns parlamentares e também alguns cidadãos que se opõem à educação pública. São pessoas que vão idiotizar nosso país. Há uma recessão na América que fez com que sobrassem menos recursos para a educação pública, mas não podemos aceitar isso. Berkeley é uma das grandes universidades no mundo e tenta encontrar uma fórmula em meio à crise econômica para manter seus bons resultados.
Berkeley é mais uma instituição, das muitas que o senhor escolhe para fazer seus documentários. O que o atrai nesse tipo de abordagem?
Todas as sociedades têm instituições semelhantes às que eu filmo. Em todos os lugares há prisões, hospitais, escolas, exércitos, grupos de dança e por aí vai. A diferença é a forma que assumem em cada país, por isso acredito que as instituições explicam muito de cada sociedade. É por isso que faço filmes sobre elas, por conta de sua importância para compreendermos as sociedades. Por exemplo, meu próximo filme será sobre a National Gallery, de Londres. Mas não vou te explicar qual a ideia por trás dele (risos).


http://oglobo.globo.com/cultura/a-educacao-americana-no-olhar-de-frederick-wiseman-9586405#ixzz2cDiQG4nv 

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