Governo oferecerá a Glenn Greenwald, repórter americano do ‘Guardian’, proteção contra pressão dos EUA
07 de agosto de 2013 | 23h 07,
Denise Chrispim Marin - O Estado de S. Paulo
O Brasil está pronto para dar proteção ao jornalista americano Glenn Greenwald, colunista do jornal The Guardian, após seu depoimento, na terça-feira, na Comissão de Relações Exteriores do Senado, sobre a espionagem dos Estados Unidos. Uma autoridade do governo brasileiro disse ao Estado que se impressionou com as declarações de Greenwald sobre as vantagens extraídas pelos americanos com a espionagem no Brasil.
Dida Sampaio/AE
No Senado, Greenwald afirmou ter cerca de 20 mil documentos que comprovam espionagem americana
Para obter a proteção oficial do País, Greenwald, morador do Rio de Janeiro, terá de solicitá-la. Na avaliação do governo brasileiro, ele não poderá retornar aos Estados Unidos sem enfrentar o risco de ser enquadrado judicialmente pelo mesmo tribunal secreto que vem autorizando o monitoramento da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) no território americano e no exterior.
Durante a audiência no Senado, Greenwald afirmou ter cerca de 20 mil documentos repassados por Edward Snowden, ex-agente da NSA responsável pela revelação do esquema de espionagem, asilado temporariamente na Rússia.
Conforme disse a senadores brasileiros, a iniciativa americana não está centrada apenas no combate ao terrorismo, como o governo do presidente Barack Obama vem argumentando, mas na obtenção de informações comerciais sigilosas, que não seriam superficiais, como tem alegado a Casa Branca.
"O desempenho de Greenwald foi muito corajoso", afirmou a autoridade brasileira. "Ele mostrou estar de posse de um volume extraordinário de informações. O que saiu até agora foi apenas um aperitivo", completou, ciente dos estragos já acumulados pelo governo de Obama nas suas relações com China, Rússia e aliados europeus.
Kerry. O depoimento do jornalista acentuou o atrito entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos no momento de preparação da visita da presidente Dilma Rousseff a Washington, marcada para 23 de outubro. A chegada do secretário de Estado americano, John Kerry, a Brasília para tratar do encontro está marcada para terça-feira.
Embora a diplomacia brasileira mantenha seu tradicional costume de separar as questões de atrito em sua agenda com outros países, o ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota deverá pedir explicações a Kerry, dessa vez com maior ênfase, sobre a espionagem americana no Brasil. Até a noite de ontem, a visita de Kerry ainda não havia sido formalmente confirmada pelo Departamento de Estado americano. No fim de abril, sua visita a Brasília foi cancelada.
O governo brasileiro terá o cuidado de não permitir que o episódio de espionagem atrapalhe os acordos e as parcerias a serem definidos com os Estados Unidos a partir do encontro entre Dilma e Obama - sobretudo nas áreas de comércio, investimentos e defesa.
Os Estados Unidos tampouco querem piorar os estragos já feitos com o escândalo de espionagem. O Brasil tornou-se um dos maiores provedores de superávit comercial para os americanos e oferece oportunidades para o aumento do comércio bilateral.
Na área de Defesa, o Brasil está disposto a reabrir as negociações com os Estados Unidos sobre o uso americano da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão. O País teria, como ponto de partida, de retirar da pauta do Congresso o acordo assinado em 2000 entre os dois governos e definir um novo patamar para a negociação. Sem chances de ser aprovado pelos congressistas brasileiros, o acordo anterior permitia total sigilo sobre as atividades americanas na base e proibia a participação de brasileiros no projeto.
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