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editoriais@uol.com.brO secretário de Justiça dos Estados Unidos, Eric Holder, determinou às 94 Procuradorias Federais do país que não mais mencionem em seus libelos a quantidade de droga apreendida com réus de baixo potencial ofensivo, desobrigando os juízes de aplicar a pena mínima para tráfico (definido como posse de mais de 28 gramas de cocaína ou crack), que é de cinco a dez anos de prisão.
Sentenças mínimas elevadas --um dos eixos da guerra às drogas adotada nos anos 1980 nos EUA-- são apontadas como o principal motivo para a alta taxa de encarceramento do país.
Os números impressionam. Enquanto a população americana cresceu 30% nas últimas três décadas, a massa carcerária aumentou 800%, atingindo a marca de 2,3 milhões de presos (716 por 100 mil, maior taxa do mundo; no Brasil são 274 por 100 mil). Cerca de 40% deles estão na cadeia por crimes relacionados a drogas.
Manter os detentos também traz custo astronômico aos EUA: US$ 80 bilhões em 2010, segundo Holder. O governo federal, com 220 mil encarcerados, gasta mais de US$ 6 bilhões por ano.
São difíceis de estimar, em termos de redução do consumo de drogas, os resultados desse gasto elevado, mas poucos ousam dizer que tenha sido um sucesso.
Não é descabido afirmar que o mundo está na iminência de uma mudança de paradigma em relação às drogas. Muitos são os sinais.
A maioria das nações do Ocidente desistiu de aprisionar usuários, e alguns países, como Holanda e Portugal, adotam políticas bem mais tolerantes. O Uruguai está em vias de promover a legalização da maconha, sob supervisão estatal.
Mesmo nos Estados Unidos, núcleo da guerra às drogas, as coisas mudam rapidamente. O governo federal abraça com atraso a ideia de buscar sentenças menores.
Os Estados, mais sensíveis a constrangimentos orçamentários, já fizeram isso há tempos --com o apoio de liberais e até de conservadores. Mais do que isso, dois deles, Colorado e Washington, aprovaram em plebiscitos o uso recreacional da maconha.
Constata-se, aos poucos, que a ideia de banir as drogas de uma vez por todas nunca passou de utopia de altíssimo custo.
Folha de S.Paulo, 15/8/2013
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