Artigo de Isaac Roitman publicado no boletim Pensar a Educação em Pauta
O título desse artigo foi dito pela jovem paquistanesa de 17 anos, Malala Yousafzai ao saber da concessão do prêmio Nobel da Paz de 2014 dividido com o ativista do direito às crianças, o indiano Kailash Satyarthi. Ela foi baleada em 2012 por defender a educação escolar das mulheres em seu país. Em 2013 no dia de seu aniversário, 16 de julho, ela foi aplaudida de pé quando falou na Assembleia Jovem da ONU. Nesse mesmo ano ela recebeu o Premio Internacional da Paz Infantil e o Prêmio Saklarov para a Liberdade de Pensamento, concedido pelo Parlamento Europeu. Foi também nomeada Embaixadora da Consciência pela ONG Anistia Internacional. A partir de 2009, aos 11 anos, após o Taleban ter decretado a proibição de meninas frequentarem escolas, usando um pseudônimo, ela passou a publicar um diário onde denunciava as atrocidades cometidas contra meninas que iam á escola.
Felizmente no Brasil já superamos o preconceito de gênero. No entanto, temos ainda um grande desafio que é não darmos oportunidades a cada criança e jovem de terem uma educação básica de qualidade, principalmente nos segmentos mais empobrecidos da nossa população. Esse problema enfraquece o aperfeiçoamento da nossa democracia como já lembrava Anísio Teixeira, enfatizando que a educação é máquina de fazer democracia. A grande prioridade no Brasil é a de proporcionar nas próximas décadas um ensino público de qualidade desde a primeira infância até o final do ensino médio para todas as crianças e jovens. As ações para essa conquista já são sobejamente conhecidas e foram explicitadas no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em 1932 e repetidas em 1959. Infelizmente nossos dirigentes ao longo das últimas décadas não souberam desenvolver uma política de estado para a educação.
A primeira ação é de atrair para a carreira de Professor do ensino básico os melhores egressos do ensino médio. Para tanto é absolutamente fundamental a valorização do Professor. Pela sua função social, o salário do Professor do ensino básico deveria estar na faixa superior da remuneração do servidor público. É ele o principal responsável pelo comportamento social das futuras gerações e pelo desenvolvimento econômico do país. Outra dimensão importante é o preparo do novo Professor para atender a juventude do século XXI que incorporou e vai incorporar todos os avanços e saltos tecnológicos do futuro. O Professor do século XXI tem a missão de ser um estimulador para a busca e uso do conhecimento com a capacidade para diagnosticar e resolver conflitos. O projeto de Federalização do Ensino Básico proposto pelo Senador Cristovam Buarque contempla ao longo de alguns anos de termos o Professor ideal em todo o território brasileiro.
Um repensar sobre o conteúdo em cada fase do ensino básico é uma tarefa urgente e permanente levando-se em conta as transformações sociais, ecológicas e econômicas. O exercício do pensar deve constar do cenário do processo educacional. Os conteúdos inúteis deverão ser eliminados como já pregava Darcy Ribeiro. O aprendizado visando o conhecer, o fazer, o conviver e o ser, como apontado pela Unesco deverão ser os vetores da educação brasileira. Tão importante como o preparo profissional adequado será importante cultivar e promover nos estudantes os valores e virtudes como a ética, a afetividade, a solidariedade e o respeito à natureza.
O estabelecimento de protocolos para o estímulo ao processo cognitivo na primeira infância (0 – 6 anos) deverá ser o primeiro passo para uma revolução no nosso sistema educacional. Será fundamental o estabelecimento de políticas públicas integradas e flexíveis de atendimento especial às famílias com crianças pequenas, conforme suas diferentes circunstâncias e necessidades, visando assegurar o direito a condições básicas para o seu desenvolvimento integral. Essas políticas devem minimizar o efeito dos fatores de risco, entre os quais a condição social e econômica de seus pais, famílias em condições críticas, especialmente em relação a violência, pobreza extrema, ambientes tóxicos e monoparentais que requerem atendimento diferenciado. O ambiente educacional deverá ser prazeroso e interessante como pregava Ruben Alves e a gestão eficiente e profissional.
Vamos nos inspirar no exemplo e ações da laureada Malala Yousafzai defendendo a educação de qualidade para todos os jovens brasileiros. A bandeira dessa jovem deve ecoar por toda a nação pregando que “a educação é a única solução”.
Isaac Roitman é Coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro da Universidade de Brasília e membro da Academia Brasileira de Ciências.
(Pensar a Educação em Pauta)
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