Até recentemente, os sindicalistas eram também militantes por causas sociais. Os sindicalistas representavam uma categoria, lutavam por direitos e vantagens, mas integravam partidos com causas revolucionárias, que pretendiam beneficiar todos os trabalhadores e construir uma sociedade melhor para as gerações futuras.
A dupla militância desapareceu. O movimento sindical privatizou a luta e acorrentou-se ao imediato. Os sindicalistas se tornaram prisioneiros das lutas por categorias, perderam o gosto pela utopia dos trabalhadores, substituída pelos direitos dentro do marco do sistema onde vivem e atuam. A situação limita as bandeiras de luta quase exclusivamente a salários e outros benefícios financeiros, além de melhores condições de trabalho.
Todos os benefícios ficam, direta ou indiretamente, dentro dos limites financeiros. A redução da jornada de trabalho é propósito justo, mas tem sido tática para aumentar os pagamentos por meio de horas extras, não para usufruir de mais tempo livre. A defesa do direito à saúde não é luta para melhorar a saúde pública, mas sim para obter recursos para o pagamento de seguros privados. A luta por educação de qualidade para todos, por boa educação pública, não aparece em nenhuma das listas de reivindicações sindicais.
Isso se explica pela redução do apelo socialista e pelo avanço do capitalismo na forma global e neoliberal. O individualismo se fez presente em todos os lados e o sindicalismo ficou concentrado no propósito consumista e monetarista que caracteriza o mundo atual. Em vez do comunismo em toda sociedade, os sindicatos optaram pelo consumismo para os filiados.
A consequência é que os sindicatos, órfãos de bandeiras transformadoras, se tornaram conservadores, não querem revolução. Querem - com justiça, mas somente - que os trabalhadores se apropriem da parte maior do produto pela renda salarial, da mesma forma que as associações patronais querem, injustamente, se apropriar de parcela maior para o lucro. Nem um nem outro quer mudar as estruturas, nem mesmo as características do sistema em que atuam. Isso fica mais grave porque o capitalismo moderno conseguiu ampliar a capacidade de consumo dos trabalhadores sindicalizados, deixando parcela substancial do povo excluída, sem emprego nem salário. Enquanto a parcela da população passava fome, os trabalhadores do setor moderno lutavam para aumentar o valor do vale-alimentação; enquanto a saúde pública está calamitosa, os sindicatos dos trabalhadores, inclusive aqueles do setor, lutam pelo direito ao seguro privado. Além da opção pelo individualismo em todos os sindicatos, aqueles do setor público privatizaram o Estado a serviço dos filiados.
Por isso, em muitos casos, certas conquistas de servidores diminuem a disponibilidade de recursos orçamentários para servir aos interesses coletivos e de longo prazo, e ainda reduzem a dedicação do servidor ao atendimento do público. Pode-se dizer que são conquistas necessárias para que o servidor possa desempenhar bem as funções: o médico cansado sacrifica vida de doentes, o policial esgotado não exerce bem a atividade, o professor com 40 horas de aulas por semana não oferece bom ensino. Mas para que essas condições sejam oferecidas, o governo precisa contratar mais servidores, isso custa mais e força necessariamente a elevação de impostos e sacrifícios em outros serviços.
O que acontece hoje em Brasília, devido à incompetência e ao populismo eleitoreiro do último governador, é prova da aliança de políticos populistas com sindicalistas corporativos. Governo e sindicatos fizeram aliança que daria votos ao governador e vantagens aos trabalhadores, mesmo quebrando o equilíbrio fiscal das contas públicas e sacrificando as categorias profissionais e, principalmente, os habitantes da cidade. O novo governo assumiu sem condições de cumprir os compromissos e ainda ficou obrigado a aumentar impostos e a reduzir gastos, comprometendo o bem-estar da população e a qualidade de vida. Governos e sindicalistas abandonaram os interesses dos filhos da cidade, que também são dos trabalhadores. Em troca de benefícios imediatos, sacrificam os futuros trabalhadores.
CRISTOVAM BUARQUE - Professor emérito da UNB e senador pelo PDT-DF
A dupla militância desapareceu. O movimento sindical privatizou a luta e acorrentou-se ao imediato. Os sindicalistas se tornaram prisioneiros das lutas por categorias, perderam o gosto pela utopia dos trabalhadores, substituída pelos direitos dentro do marco do sistema onde vivem e atuam. A situação limita as bandeiras de luta quase exclusivamente a salários e outros benefícios financeiros, além de melhores condições de trabalho.
Todos os benefícios ficam, direta ou indiretamente, dentro dos limites financeiros. A redução da jornada de trabalho é propósito justo, mas tem sido tática para aumentar os pagamentos por meio de horas extras, não para usufruir de mais tempo livre. A defesa do direito à saúde não é luta para melhorar a saúde pública, mas sim para obter recursos para o pagamento de seguros privados. A luta por educação de qualidade para todos, por boa educação pública, não aparece em nenhuma das listas de reivindicações sindicais.
Isso se explica pela redução do apelo socialista e pelo avanço do capitalismo na forma global e neoliberal. O individualismo se fez presente em todos os lados e o sindicalismo ficou concentrado no propósito consumista e monetarista que caracteriza o mundo atual. Em vez do comunismo em toda sociedade, os sindicatos optaram pelo consumismo para os filiados.
A consequência é que os sindicatos, órfãos de bandeiras transformadoras, se tornaram conservadores, não querem revolução. Querem - com justiça, mas somente - que os trabalhadores se apropriem da parte maior do produto pela renda salarial, da mesma forma que as associações patronais querem, injustamente, se apropriar de parcela maior para o lucro. Nem um nem outro quer mudar as estruturas, nem mesmo as características do sistema em que atuam. Isso fica mais grave porque o capitalismo moderno conseguiu ampliar a capacidade de consumo dos trabalhadores sindicalizados, deixando parcela substancial do povo excluída, sem emprego nem salário. Enquanto a parcela da população passava fome, os trabalhadores do setor moderno lutavam para aumentar o valor do vale-alimentação; enquanto a saúde pública está calamitosa, os sindicatos dos trabalhadores, inclusive aqueles do setor, lutam pelo direito ao seguro privado. Além da opção pelo individualismo em todos os sindicatos, aqueles do setor público privatizaram o Estado a serviço dos filiados.
Por isso, em muitos casos, certas conquistas de servidores diminuem a disponibilidade de recursos orçamentários para servir aos interesses coletivos e de longo prazo, e ainda reduzem a dedicação do servidor ao atendimento do público. Pode-se dizer que são conquistas necessárias para que o servidor possa desempenhar bem as funções: o médico cansado sacrifica vida de doentes, o policial esgotado não exerce bem a atividade, o professor com 40 horas de aulas por semana não oferece bom ensino. Mas para que essas condições sejam oferecidas, o governo precisa contratar mais servidores, isso custa mais e força necessariamente a elevação de impostos e sacrifícios em outros serviços.
O que acontece hoje em Brasília, devido à incompetência e ao populismo eleitoreiro do último governador, é prova da aliança de políticos populistas com sindicalistas corporativos. Governo e sindicatos fizeram aliança que daria votos ao governador e vantagens aos trabalhadores, mesmo quebrando o equilíbrio fiscal das contas públicas e sacrificando as categorias profissionais e, principalmente, os habitantes da cidade. O novo governo assumiu sem condições de cumprir os compromissos e ainda ficou obrigado a aumentar impostos e a reduzir gastos, comprometendo o bem-estar da população e a qualidade de vida. Governos e sindicalistas abandonaram os interesses dos filhos da cidade, que também são dos trabalhadores. Em troca de benefícios imediatos, sacrificam os futuros trabalhadores.
CRISTOVAM BUARQUE - Professor emérito da UNB e senador pelo PDT-DF
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