2 de março de 2015

Indisciplina é um dos principais problemas em escolas, diz pesquisa

01 de março de 2015
Levantamento da Fundação Lemann ouviu mil profissionais do Ensino Fundamental em todo o país

Fonte: Fantástico



Você sabia que a indisciplina dos alunos é um dos principais problemas que os professores enfrentam em sala de aula? Mais até que os baixos salários? Quem diz isso são os próprios professores, em uma pesquisa inédita com profissionais da rede pública de todo o país.
Uma longa jornada. O Fantástico vai acompanhar o dia da professora de ciências Simone Medeiros, no Rio de Janeiro. Às 6h30 da manhã, ela sai de casa, na Penha, Zona Norte da cidade, para a primeira aula, em uma escola de ensino fundamental, no bairro vizinho de Ramos.
No intervalo, às 9h30, planejamento para as aulas seguintes. O almoço, ao meio-dia, é rápido, na cantina, com os colegas. Às 13, começa o segundo turno.
Às 17h50, o dia de Simone ainda não acabou. Ela vai para uma outra escola, onde vai dar aula no turno da noite. “Estou bastante cansada”, confessa Simone.
A rotina de Simone ajuda a entender os resultados de uma pesquisa inédita sobre o trabalho dos professores da rede pública. O levantamento da Fundação Lemann ouviu mil profissionais do ensino fundamental em todo o país. E revelou o que os nossos mestres consideram como os maiores problemas para melhorar a educação.
Para Simone, a carga horária exaustiva é só uma das dificuldades.“Você tem que largar um pouco o conteúdo para você trabalhar outras questões. Questões afetivas, questões de família, a questão da violência. Você está, às vezes, trabalhando em um ambiente que você está ouvindo tiro”, conta Simone.
A falta de acompanhamento psicológico para os estudantes é apontada como o problema que precisa ser resolvido de forma mais urgente. Em uma noite, a aula da Simone acabou mais cedo porque havia um tiroteio perto da escola.
“É frustrante, né? A gente diminui muito o que a gente ia trabalhar com eles”, diz Simone.
Um dos maiores desafios dos professores é compreender e lidar com a realidade que os alunos enfrentam do lado de fora da escola. Os conflitos e os dramas das comunidades em que eles vivem cruzam os portões e chegam dentro das salas de aula das escolas brasileiras.
“Lógico que saber o conhecimento, saber o conteúdo para passar ele de forma correta, é fundamental. Mas não é só isso. É muito mais. Na hora que a gente chega na sala de aula a gente percebe. A gente não está preparado para esse muito mais”, explica a professora de matemática Rosania Silva.
Rosania tem 12 anos de profissão. Dá aulas de matemática para cinco turmas, em uma escola no bairro Jardim Itapura, Zona Sul de São Paulo.
Ela convive diariamente com o segundo maior problema apontado pelos professores na pesquisa.“Uma das maiores dificuldades que a gente encontra hoje na sala de aula é a indisciplina. De diferentes maneiras que ela pode se manifestar. Para o meio que o aluno vive, não considerando só o ambiente da escola, mas fora dela, aquilo é comum. A gente leva tempo, acaba atrapalhando a aula”, conclui Rosania.
“Quando a gente faz a formação de professores no Brasil, a gente não forma ele para sala de aula. A gente não prepara esse professor para lidar com a indisciplina. Então ele tem que descobrir tudo isso na hora em que está lá, dentro da sala de aula, com 30, 35, 40 alunos, sem preparo”, avalia Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann.
Thioni Carreti tem 26 anos. É professora de ciências há três, em uma escola em Cidade Leonor, também na Zona Sul de São Paulo. E já descobriu que na sala de aula precisa ser mais do que professora.
Thioni Carreti: Quando eu entrei na escola, eu não esperava que eu teria tantos problemas com relação à convivência dos alunos em sala.
Fantástico: Então, você tem que atuar, às vezes, como um conciliadora dentro de sala de aula?
Thioni Carreti: Sim. Uma mediadora de conflitos.
Fantásitco: Isso é muito difícil?
Thioni Carreti: É difícil porque nem sempre você está preparado psicologicamente para lidar com isso.
A diretora da escola onde Thioni trabalha recebe o mesmo retorno de toda a equipe.“A nossa preocupação é: se eu melhoro as minhas condições dentro da escola e abraço e acolho essas crianças aqui, para que eles se sintam pertencentes dessa sociedade na qual eles estão vivendo, essa criança vai melhorar seu aprendizado”, explica a diretora Sarah Correa da Silva.
Mas, essa tarefa não é fácil. Isso porque o atraso dos alunos para aprender o conteúdo, para os professores, é o terceiro problema que precisa ser enfrentado. Na sequência, vem a aprovação de estudantes que ainda não estão preparados para o próximo ciclo. E, em quinto lugar, os baixos salários.
“O debate sobre professor está tão distorcido, a gente só fala do salário, das más condições de trabalho... Mas, o que motiva esse professor a ser professor? Ele quer garantir que seus alunos aprendam”, avalia Mizne.
Na pesquisa, 72% dos professores afirmaram que a contribuição para o aprendizado dos alunos é o que mais traz satisfação. E 65% se disseram satisfeitos com a responsabilidade social do trabalho que fazem.
Na segunda-feira, a Thioni, a Rosânia, a Simone e milhares de professores começam mais uma semana para cumprir a missão de educar.

Campeão de indisciplina

02 de março de 2015
Entre 33 países, o Brasil é, disparado, onde os professores mais relatam a presença de alunos com problemas de comportamento

Fonte: Coluna do Antonio Gois - O Globo (RJ)


Alunos e professores nem sempre concordam sobre os motivos que explicam maus resultados de uma turma ou escola. Há, no entanto, um ponto consensual no Brasil: perdemos muito tempo em sala de aula por causa da indisciplina. Esse problema e a falta de acompanhamento psicológico para os estudantes são justamente as duas questões mais urgentes a serem enfrentadas no país na opinião dos docentes, segundo pesquisa da Fundação Lemann exibida ontem no programa “Fantástico”.
Um boletim divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em janeiro já trazia um dado alarmante sobre o tema: dentre 33 países comparados na Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem de 2013, o Brasil foi, disparado, onde os professores mais relataram ter 10% ou mais de estudantes indisciplinados. Dois terços de nossos docentes disseram vivenciar esse problema em sala de aula.
Em seguida nessa espécie de ranking da indisciplina aparecem outros dois países latino-americanos —Chile e México—, com metade dos docentes reportando esse quadro. A média dos países da pesquisa é de 31%, mas, em nações como Dinamarca, Croácia, Noruega e Japão, o percentual não passa de 20%.
O levantamento mostra ainda que um terço dos professores (34%) estão em escolas cujos diretores verificam intimidação ou ofensa verbal entre os alunos semanalmente, novamente o maior percentual entre os países. Não por acaso, são os docentes brasileiros que dizem mais tempo perder em sala de aula tentando controlar a indisciplina.
O incômodo é reportado também pelos alunos. Em outra pesquisa da OCDE, o Pisa (exame internacional aplicado a jovens de 15 anos), dentre 65 nações comparadas, apenas na Argentina e na Tunísia os estudantes reclamam mais de indisciplina entre os colegas do que no Brasil.
Um estudo de Gabriela Moriconi e Julie Bélanger, que será publicado em breve pela OCDE e pela Fundação Carlos Chagas, identifica possíveis soluções. Ele mostra que a participação de professores em programas de desenvolvimento profissional e o trabalho em escolas onde há uma cultura de troca de experiências e ajuda mútua entre docentes estão associados a uma menor ocorrência de atos de indisciplina.
Outra constatação importante, corroborada também pela OCDE em seu boletim, é a de que é preciso envolver alunos, pais, funcionários e professores nas decisões escolares, “para criar uma cultura de responsabilidade compartilhada que tem impactos positivos no envolvimento do estudante com a escola e em seu comportamento”.
Resolver o problema não é simples, mas é certo que essa responsabilidade não pode recair apenas sobre os ombros dos professores. Gabriela Moriconi, uma das autoras do estudo, visitou escolas em Ontário (no Canadá) e na Inglaterra, em busca de lições para a América Latina. Ela conta que a característica desses sistemas de ensino que mais lhe chamou a atenção foi a estrutura de apoio não acadêmico com a qual os colégios podiam contar. “São pessoas que se preocupam com a presença dos alunos, ficam à disposição para que eles os procurem quando têm problemas, que trabalham com os casos mais sérios de comportamento e orientam projetos de vida e de carreira, lidando com o aspecto socioemocional. Especialmente em escolas com alunos de nível socioeconômico mais baixo, esses apoios me parecem fundamentais”, afirma a pesquisadora.

Professor no Brasil perde 20% da aula com bagunça na classe, diz estudo

02 de março de 2015
Pesquisa da OCDE aponta que 60% dos docentes têm alunos-problemas. Brasil lidera 'ranking' de intimidação verbal entre alunos e professores

Fonte: G1


Uma pesquisa feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que no Brasil o professor perde 20% do tempo de aula acalmando os alunos e colocando a classe em ordem para poder ensinar. Além disso, o estudo aponta que 60% dos professores brasileiros ouvidos têm mais de 10% de alunos-problemas em sua sala de aula, o maior índice entre os países participantes do estudo.
A pesquisa Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Teaching and Learning Internacional Survey, Talis, na sigla em inglês) ouviu professores de 33 países.
O estudo aponta que no Brasil o professor perde 20% do tempo para por a classe em ordem e acabar com a bagunça, 13% do tempo resolvendo problemas burocráticos e 67% dando conteúdo. É o país que onde o professor mais perde tempo de aula. A média dos países da OCDE é de 13% do tempo para acabar com a bagunça.
O estudo perguntou aos professores se eles têm mais ou menos de 10% de alunos problemáticos na classe. O Brasil teve 60% dos docentes apontando terem mais de 10% de estudantes problemáticos. Chile, México e Estados Unidos aparecem depois. Na outra ponta, Dinamarca, Croácia, Noruega e Japão têm menos relatos de professores sobre alunos com mau comportamento.
Os dados foram levantados em 2013 com alunos do ensino fundamental e ensino médio (alunos de 11 a 16 anos), mas um relatório sobre a questão de comportamento dos alunos foi divulgado este ano. No Brasil, 14.291 professores e 1.057 diretores de 1.070 escolas completaram o questionário da pequisa.
A pesquisa Talis coleta dados sobre o ambiente de aprendizagem e as condições de trabalho dos professores nas escolas de todo o mundo. O objetivo é fornecer informações que possam ser comparadas com outros países para que se defina políticas para o desenvolvimento da educação.

VEJA ALGUNS DADOS DA PESQUISA:
Tempo para por a classe em ordem
No Brasil o professor perde 20% do tempo para acalmar os alunos, dar broncas e colocar a classe em ordem. A média da OCDE é de 13%.
Aluno que chega atrasado
Este não chega a ser um grande problema em comparação a outros. O índice no Brasil é de 51,4%, menor que a média dos países, de 51,8%. Países mais desenvolvidos têm alunos que atrasam mais, como Finlândia (86,5%), Suécia (78,4% Holanda (75,7%), Estados Unidos (73,3%) e França (61,6%).

Falta às aulas
Também o Brasil está na média, com 38,4%. Suécia (67,2%), Finlândia (64%) e Canadá (61,8) têm números maiores. O menor índice é da República Checa (5,7%).

Vandalismo e roubo
O Brasil está em segundo lugar neste item, com 11,8% dos relatos dos professores, atrás do México, líder com 13,2% e à frente da Malásia, com 10,8%.
Intimidação verbal entre alunos
O Brasil lidera a pesquisa com 34,4% dos relatos de professores, seguido pela Suécia (30,7%) e Bélgica (30,7%).
Ferimentos em briga de alunos
O maior índice é do México (10,8%), seguido por Chipre (7,2%) e Finlândia (7%). O Brasil aparece em quarto com 6,7%.
Intimidação verbal de professores
O Brasil é primeiro lugar com 12,5%. Em seguida vem a Estônia (11%).
Uso e posse de drogas e/ou álcool
Nos relatos, o Brasil tem o mais alto índice (6,9%), seguido pelo Canadá (6%).
Formação do professor
A pesquisadora Gabriela Moriconi, da Fundação Carlos Chagas, participou do levantamento. Ela também fez pesquisas em Ontário, no Canadá, e na Inglaterra, e percebeu que a formação dos professores é melhor nestes países.
Ainda de acordo com o estudo, no Brasil, mais de 90% dos professores dos anos finais do ensino fundamental concluíram o ensino superior, mas cerca de 25% não fizeram curso de formação de professores. Em comparação, no Chile aproximadamente 9 entre 10 professores concluíram tais cursos, assim como quase todos os professores na Austrália e em Alberta (Canadá).
"No Brasil, por problemas de salários e outras atividades, se coloca um professor que não foi preparado para dar aquela disciplina. Além disso, a média no Brasil é de 31 alunos por classe, enquanto nos outros países é de 24 alunos", destaca Gabriela. Segundo ela, é preciso criar um sistema de planejamento de políticas de apoio às escolas e aos professores para lidar com alunos que estão se desenvolvendo. "Todo mundo entende que na pré-adolescência os estudantes testam seus limites e estão aprendendo a ser autônomos", afirma a pesquisadora. "Antes de acharmos que nosso aluno é preciso ver que em outros países os estudantes têm muito apoio que no nosso não tem."
Em seu relatório, a pesquisadora conclui que "a construção de uma cultura escolar positiva pode ser uma forma de reduzir problemas de comportamento e absentismo, e, portanto, melhorar as condições de aprendizagem dos alunos". "Uma maneira de criar um ambiente mais positivo é envolver os alunos, pais e professores nas decisões da escola. Professores que trabalham em escolas com um maior nível de participação entre as partes interessadas têm menos relatos de alunos com problemas de comportamento em suas salas de aula."



Nenhum comentário:

Postar um comentário