Acho que vamos ter que viver mais um pouco para que as regras de boa conduta dos novos jeitos de nos comunicarmos
Hoje em dia, organizamos nosso pensamento para que ele possa ser comunicado por meio de alguns meios modernos de comunicação: telefone --fixo ou celular--, interfone, e-mail, Whatsapp, Skype, Facebook e outros tantos.
São sistemas que usamos não só para ampliar as áreas de atuação de nossa mente: alguns deles possuem memória, outros somente estabelecem contato instantâneo entre duas ou mais fontes.
O que importa é que contamos com a possibilidade de nos comunicar de forma quase imediata com um sem-número de interlocutores. Esses sistemas foram um milagre muito aplaudido quando do seu aparecimento, até que se tornaram intrusos. Hoje, criamos jeitos de evitá-los ou controlá-los.
Há muito pouco tempo, era tudo tão diferente! Há 20 anos, e-mail e celular não passavam de promessas. Pouquíssimos privilegiados de sociedades mais desenvolvidas tinham acesso a essas formas de comunicação instantânea.
Há 50 anos não fazia muita diferença se um sobradinho tinha campainha ou não. Os moradores atendiam tanto quem tocava a campainha como quem batia palmas no portão. Há menos de cem anos, nem mesmo campainhas existiam. Os vendedores e visitantes anunciavam-se em alto e bom som.
A campainha foi um aperfeiçoamento para o nosso bem e para o mal. Podia ser também alvo de brincadeiras de mau gosto, tipo tocar campainha e sair correndo. E então, a campainha e o telefone adquiriram funções diferentes: o telefone foi devagarzinho substituindo a comunicação de corpo presente.
Agora, é só ligar, encomendar e esperar a entrega. Por um lado, a comunicação pessoa a pessoa ficou mais próxima. Por outro, mais distante, intermediada por telefones, e-mails ou mensagens de texto.
Hoje só precisamos saber que horas são em Paris para não perturbar os amigos ou parentes por lá, pois a ligação telefônica é instantânea.
Setenta anos atrás, quando a Segunda Guerra terminou, quem queria falar com a família na Europa ou qualquer outro lugar distante, precisava ir à Telesp, agendar a ligação com antecedência --de dias, às vezes-- e permanecer a postos, esperando ser chamado a ocupar uma das cabines. Na rua 7 de Abril, em São Paulo, os bares em frente à Telesp faturavam a rodo.
O celular, então, é um caso à parte. Em qualquer lugar, a qualquer hora, o mundo está à disposição do mundo. Mas não é só um prêmio --invadir o outro é tão fácil quanto premiar o outro. Todos estamos permanentemente sob ameaça de sermos interrompido por um "trim", necessário ou banal.
Surpreendemo-nos quando ligamos para um celular e não somos atendidos. Se você me deu o seu número, tenho o direito de imaginar que serei atendido no momento em que eu ligar. Chega às raias da grosseria não atendê-lo. Essa é a etiqueta do celular: deu o número é porque se propõe a atender.
Acho que nós vamos ter que viver mais um pouco para que as regras de boa conduta dos novos jeitos de nos comunicar forneçam mais informações sobre o que é privado ou público. Tudo isso até aparecer um outro jeitinho de eu me comunicar com você.
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