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Entrevista. Herman Voorwald, secretário estadual da Educação de São Paulo
‘Anos finais têm de estar na mão das cidades’
Paulo Saldaña
06 Junho 2015 | 03h 00
O senhor acredita que existe um exagero que a escola pública é ruim?
Não tenho a menor dúvida. E não é de agora. Enquanto reitor da Unesp, tínhamos cerca de 40% de alunos que vinham da escola pública. Há qualidade, mas nem sempre essa qualidade é analisada sob a ótica correta. Os meninos têm um potencial enorme.
Mas os anos finais do fundamental e o médio da rede estadual registram uma estagnação dos indicadores de qualidade. O que acontece?
Não é só em São Paulo, isso acontece na maior parte do País nos anos finais. Estamos discutindo isso no Consed (entidade que reúne os secretários estaduais de Educação do País). Se não mexermos nos finais, não adianta mexer no médio. Estamos preocupados com o ensino médio, porque é terminalidade. No Estado de São Paulo houve um processo em que só se municipalizou os anos iniciais. E o aluno sai de uma rede municipal que nem sempre tem controle, umas têm currículo comprado, outras não têm nada. Sou da opinião de que os anos finais têm de estar nas mãos dos municípios.
Mas especialistas cobram protagonismo da secretaria estadual nessa articulação com os municípios. Há dificuldades?
São muitas. Começa com a questão financeira. Não houve mudança de financiamento da educação básica. A lei do piso viabilizou 13% de reajuste neste ano e espera-se 12,7% em 2016. Nenhum município consegue pagar e vem ao Estado pedir recursos.
E o Estado pode colaborar mais financeiramente?
Não tem como. O Estado já compromete 30% do seu orçamento. Tem 9,57% do ICMS nas universidades, Centro Paula Souza e Universidade Virtual. Nosso orçamento é de R$ 27 bilhões, com uma folha salarial que consome 53% do total do Estado e ultrapassa os R$ 17 bilhões.
Um desafio a ser enfrentado
RICARDO HENRIQUES* - O ESTADO DE S. PAULO
06 Junho 2015 | 03h 00
Muitos são os desafios do ensino médio, mas certamente o currículo é uma questão central a ser enfrentada. Diante de um quadro expressivo de evasão escolar, em que pouco mais de 50% dos jovens de 18 anos conseguem concluir essa etapa de ensino, o currículo é um elemento-chave para a permanência e conclusão com sucesso.
No atual contexto em que o conhecimento, a tecnologia e a informação são aspectos estruturantes da sociedade, uma grade curricular que não dialoga com os interesses dos jovens, não estimula sua autonomia frente a seus projetos de vida e não respeita suas trajetórias acaba por corroborar com a baixa qualidade de ensino.
Ter um currículo com estrutura definida, atualizada, flexível e mais opções formativas é fundamental para que os jovens possam construir os próprios caminhos e se sintam provocados a buscar conhecimentos que façam sentido para suas vidas.
Embora essa discussão tenha avançado no Brasil, ainda não foi suficiente para aprofundar as questões e os possíveis caminhos a serem seguidos. Se faz necessário olhar para as experiências internacionais e nacionais que já mostraram resultados positivos. Ainda assim, temos de ter a clareza de que o currículo é apenas um dos elementos, entre muitos, para a garantia do direito de aprendizagem dos jovens.
Uma reforma curricular sem garantir as condições mínimas de ensino aprendizagem – materiais, de formação de professores e de gestão –, não resolverá o problema. Isso porque sem uma infraestrutura adequada, sem professores bem formados e preparados para serem os agentes desse currículo, que dialoga com os jovens, esse desafio é ainda maior. Fazer mudanças urgentes é necessário para que o Brasil avance sem perder mais gerações capazes de construir um País melhor.
* É SUPERINTENDENTE DO INSTITUTO UNIBANCO E PROFESSOR DA UFF. FOI SECRETÁRIO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO E DIVERSIDADE ENTRE 2004 E 2007
Etapa é gargalo e indicadores estão estagnados
O ESTADO DE S.PAULO
06 Junho 2015 | 02h 01
Para especialistas, mudanças são urgentes. Segundo o ex-secretário de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC) Cesar Callegari, o ensino médio precisa de uma revolução, feita com muita coragem. "Não adianta mais ficar remendando uma estrutura que evidentemente não corresponde às necessidades dos jovens, das escolas e do País", diz o também ex-secretário municipal de Educação da Prefeitura de São Paulo. "É importante que a meninada tenha como exercer seu protagonismo."
Os indicadores de qualidade do ensino médio do País estão praticamente estagnados, e não é diferente em São Paulo. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do ensino médio paulista caiu entre 2011 e 2013, de 3,9 para 3,7, ficando abaixo da meta daquele ano (que era de 3,9) e distante da meta a longo prazo: chegar a 5,1 em 2021. No indicador estadual realizado todos os anos, houve variação positiva no Idesp em 2014 com relação ao ano passado. Passou de 1,83 para 1,93 - o ideal é chegar a 5. O maior problema é que os resultados nas avaliações de Português e Matemática estão estagnados em níveis muito baixos há anos.
A pesquisadora Paula Louzano, doutora em Política Educacional pela Universidade Harvard, vê a falta de um esforço para uma sistematização articulada entre os níveis de ensino. "Há uma ideia de que nosso ensino é enciclopédico, mas nem a esse ponto chegamos. Se os alunos soubessem o que é porcentagem, mas não entendessem para que serve, seria isso. Mas a maioria dos alunos não sabe nem porcentagem", diz. "Vejo com muita desconfiança reformas no ensino médio sem mexer nos anos finais do ensino fundamental." / P.S.
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