SÃO PAULO - O pensamento mágico, definido como a atribuição de relações causais entre atos e eventos que não podem ser justificadas pela razão e pela observação, permeia nossa espécie. Por vezes, ele é só divertido, como ocorre quando o técnico de futebol faz questão de usar sua meia da sorte em todos os jogos da equipe. Sua hipótese é desmentida a cada derrota do time, mas isso não o faz abandonar o fetiche.
Em outras ocasiões o pensamento mágico se revela menos benigno. É o que ocorre com a ideia de que obrigar um aluno de baixo desempenho escolar a repetir de ano vai fazê-lo aprender. A tese, embora possa ter apelo intuitivo --desta vez, ele vai estudar!--, não é amparada pelas evidências empíricas. Ao contrário, metanálises como a de Holmes e Matthews (1984) e a de Jimerson (2001) compararam os resultados de dezenas de estudos e concluíram que, ao menos no ensino fundamental, a reprovação não só não é benéfica como pode piorar o desempenho do aluno.
Com efeito, se um estudante não consegue aprender, ou o problema está nele, ou na escola. No primeiro cenário, o remédio seria descobrir quais são suas deficiências e tentar repará-las. Mas, sem uma ação voltada especificamente para este aluno, não parece inteligente apenas obrigá-lo a repassar pela mesma experiência esperando resultados diferentes. Se a falha está no sistema, então o buraco é mais embaixo, e a reprovação como meio de corrigir o problema fica mais difícil de justificar.
Apesar disso tudo ser conhecido de educadores há tempos, o prefeito Fernando Haddad decidiu, dois anos atrás, aumentar o número de séries em que os alunos da rede paulistana podem ser reprovados. Os resultados apareceram agora: a repetência mais que dobrou, passando de 2,2% para 5,4%. Estamos pagando mais para que os alunos se saiam pior.
A grande tragédia do pensamento mágico é que, nas democracias, ele facilmente se converte em políticas.
Folha de S.Paulo, 13/6/2015
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