1 de junho de 2015

Cientistas voltam à escola, Isaac Roitman


» ISAAC ROITMANProfessor emérito da Universidade de Brasília, pesquisador emérito do CNPq e membro da Academia Brasileira de Ciências



O título do artigo foi manchete de uma chamada na primeira página de recente edição do Correio Braziliense. A reportagem registrava a visita em escolas públicas do Distrito Federal de renomados cientistas brasileiros que trabalham no exterior. Esses cientistas foram agraciados com o 2º Prêmio Diáspora Brasil, iniciativa da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), que implantou a Rede Diáspora Brasil. Ela tem como objetivo transformar o conhecimento acumulado da diáspora brasileira em oportunidades de acesso a novas tecnologias conectando o capital humano brasileiro expatriado a programas nacionais de estímulo à inovação. Ela se propõe a: 1 - provocar, estimular e disseminar novas formas e possibilidades de inovação para a competitividade do Brasil; 2 - apoiar a internacionalização de empresas brasileiras em setores de alto conteúdo tecnológico; 3 - conectar a diáspora brasileira com oportunidades e programas estratégicos; e 4 - contribuir com subsídios para a estruturação de iniciativas binacionais.


Essa ponte entre pesquisadores brasileiros radicados no exterior tem sido utilizada sem dimensão institucional por iniciativa dos próprios pesquisadores. Vale destacar os projetos de colaboração e formação de recursos humanos com pesquisadores renomados: o casal Victor e Ruth Nussenzweig (New York University), Michel Rabinovitch (Rockefeller University) e o saudoso Luiz Hildebrando Pereira da Silva (Institut Pasteur). O estabelecimento de redes de pesquisadores na diáspora com o país de origem representou fator muito importante no desenvolvimento científico e tecnológico de vários países, com destaque para a China e a Índia.


Essa notável seleção de cientistas, além de participar dos rituais de premiação e de um workshop em que foram discutidos os instrumentos de cooperação com a comunidade científica e empresarial do Brasil, visitou escolas públicas para estimular os nossos jovens a conhecer o mundo científico e empresarial. Esse excepcional time de cientistas radicados nos Estados Unidos envolve lideranças em suas áreas de trabalho: Marcelo Gleiser (Dartmouth College), Michel Nussenzweig (Rockefeller University), Ana Lopes (Boston University), Marcia de Souza Lima (Sabin Institute), Vitor Plampona (EyeNetra), Fred Alslan (Advance Medical/São Francisco), José Nelson Onuchic (Rice University) e Duília de Mello (NASA).


Comentando a visita às escolas, o pesquisador Vitor Pamplona declarou que foi uma excelente oportunidade para cativar os jovens e ajudar na construção do futuro do Brasil. O encontro dos cientistas com os estudantes, cercado de curiosidades e perguntas pertinentes, atestam que os jovens apostam na educação. A iniciativa, proporcionada pela Rede Diáspora Brasil, é exemplo a ser seguido pelos protagonistas das atividades científicas radicados no Brasil.


A educação científica estimula a curiosidade, a imaginação, desenvolve habilidades, estimula o jovem a observar, questionar, investigar e entender de maneira lógica os seres vivos e os eventos do dia a dia. Um ensino de ciências de qualidade na educação básica certamente seria beneficiado pela presença constante não só de professores e pesquisadores das universidades nas escolas, mas também de bolsistas de iniciação científica e estudantes de pós-graduação (mestrandos e doutorandos). Em adição, os estudantes do ensino básico deveriam frequentar atividades programadas nas universidades. Na Universidade de Brasília, por exemplo, existem espaços científicos educativos: museus de anatomia e de geologia, salas de experiências de física e química, laboratório de resíduos, observatório sismológico e outros que deveriam ser constantemente frequentados pelos estudantes do ensino fundamental e médio, inclusive nos fins de semana e período de férias.


As atividades seriam importantes vetores da conquista da qualidade de nosso ensino básico, que atualmente apresenta deficiências de várias dimensões. Os cientistas além de estarem comprometidos com a produção do saber devem se dedicar à nobre missão de serem educadores em todos os níveis do ensino formal. Oxalá, possamos ter repetidamente a manchete: "Os cientistas voltam à escola", introduzidas por nossos compatriotas que, embora vivendo no exterior, cultivam os laços emotivos e profissionais com o povo brasileiro.

Correio Brasiliense, 1/6/2015

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