15 de maio de 2017

A importância de Antonio Candido para a Educação brasileira


Crítico literário morreu nesta sexta, aos 98 anos

por:
CM
 
Caroline Monteiro
 
Monise Cardoso 
Monise Cardoso
12 de Maio 2017 - 18:24
Antonio Candido, crítico literário brasileiro (Marcos Santos / USP)
Antonio Candido preferia ser creditado como crítico literário, mas foi muito mais que isso. Filósofo de formação, ele teve destaque como sociólogo e ensaísta, além de ser tornar professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Sua morte, ocorrida na madrugada desta sexta (12), aos 98 anos, deixa um vazio na literatura brasileira. Um vazio que será sentido na Educação.
Sua importância para a formação dos professores brasileiros, sobretudo de Língua Portuguesa, é indiscutível. Claudio Bazzoni, coordenador da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Colégio Santa Cruz e consultor de Língua Portuguesa, vê Antonio Candido como uma escola. “Todos seus livros e discursos são referência. Ele via a literatura como o ‘sonho acordado das civilizações’. Além disso, tinha uma escrita absolutamente clara, um texto impressionante”, comenta.
A defesa ao acesso universal à leitura também marca a trajetória do crítico. “Ele acreditava que a literatura tinha de ser popular, porque ela seria um direito de todos como um dos Direitos Humanos”, comenta Heloisa Ramos, formadora de professores e ex-selecionadora do Prêmio Educador Nota 10. “Para Antonio Candido, entender o valor humano que a literatura tem é proporcionar a qualquer pessoa que pense sobre as questões da vida”, explica Maria Fátima da Fonseca, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa Cedac e mestre em Educação pela PUC-SP.
A visão do intelectual alterou também a forma da literatura como uma disciplina. “Ela deixa de ser apenas matéria do Ensino Médio e passa a fazer parte do ensino desde a primeira infância até a universidade, pela vida toda”, diz Maria Fátima. A coordenadora do Cedac defende como o trabalho de Antonio Candido deve estar presente em uma sala de aula, sempre com uma abordagem mais livre. “Com as crianças, não trabalhamos a obra de Antonio Candido em si, mas levamos a ideia de os pequenos poderem falar sobre as histórias que ouvem e participar desse universo das narrativas de uma forma ativa, e não apenas como ouvintes”, diz. No Ensino Médio, os estudantes terão mais condições de trabalhar sua própria capacidade opinativa.
O modo como Candido deu uma nova percepção à literatura foi uma das marcas de sua obra. Sua estreia como crítico aconteceu na revista Clima, fundada em conjunto com então alunos da USP, como Décio de Almeida Prado, Paulo Emílio Salles Gomes e Gilda de Mello e Souza. Seu ensaio Direito à Literatura, adicionado ao livro Vários Escritos (1970) em 1988, é considerado um divisor de águas, segundo Maria Fátima da Fonseca. “Esse texto é um marco de referência na forma como começamos a olhar o trabalho de literatura, que deixa de ser uma técnica e passa a ser vista como algo mais humano”, diz.
Esse trabalho lhe rendeu grandes prêmios da literatura, como o Jabuti (1965 e 1993) e o Machado de Assis (1993). Entre suas principais obras estão Formação da Literatura Brasileira (1959) e Literatura e Sociedade (1965).
Antonio Candido nasceu no Rio de Janeiro em 24 de julho de 1918. Nos últimos meses, ele sofria de problemas intestinais, mas a causa de sua morte não foi revelada pela família.

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