25 de maio de 2017

Base curricular mira o século 21, mas formação do professor segue no 19


A Base Nacional Curricular Comum (BNCC) proposta pelo governo federal inova ao introduzir diretrizes voltadas para o ensino investigativo, focado na resolução de problemas. O que permanece não resolvido na equação é que, enquanto a base mira o século 21, os professores têm uma formação nos moldes do século 19.
Essa é a opinião das especialistas em educação que participaram da primeira mesa de debate do 2º Fórum de Inovação Educativa, promovido pela Folha em parceria com a Fundação Telefônica Vivo e com o apoio do movimento Todos pela Educação, nesta quarta-feira (24).
"A educação tem avanços, mas coleciona fracassos. A escola brasileira não ensina a pensar cientificamente", disse Claudia Costin, colunista da Folha e ex-secretária de Educação do Rio de Janeiro. "O mundo está mudando: as demandas que exigem elaboração são mais cobradas do que atividades que exigem a repetição", continuou.
Para Guiomar Namo de Mello, diretora da Escola Brasileira de Professores, os docentes trazem na bagagem uma formação antiga, que deixa o desenvolvimento pessoal a desejar.
"O problema é como ensinar o professor a ensinar o que está escrito na base nacional. É preciso que ele aprenda nas mesmas condições que ensina", afirmou.
A educadora lembrou que a base curricular prevê uma progressão contínua e articulada de conteúdos, mas, ao mesmo tempo, há falta de diálogo entre os profissionais da pedagogia e das licenciaturas que permita transformar o professor em um instrumento de capacitação.
Mello lembrou que as universidades também precisariam se adaptar ao novo modelo, já que são as responsáveis pela formação dos docentes.
"São questões complicadas, porque as universidades federais são autônomas. Além disso, as que mais formam professores são as particulares", disse Teresa Pontual, diretora de Currículos e Educação Integral do Ministério da Educação (MEC).
Pontual afirmou que a base nacional em si já é um avanço, por trazer os conteúdos que os alunos devem aprender. "Mas a gente não consegue garantir que os professores saibam os conteúdos que precisam ensinar".
Sobre as competências socioemocionais previstas na base, houve um consenso de que uma disciplina apenas com este foco seria pouco eficiente. Para Costin, o impacto maior é quando o professor ajuda a desenvolver essas competências.
Mello concordou: "Ninguém dá aula de solidariedade e resiliência. A questão é fazer que os conteúdos ancorem isso na realidade".

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