27 de maio de 2017

Vida real vira atalho para ensinar matemática

CONEXÃO COM A REALIDADE


FERNANDO TADEU MORAES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os governos mudam e os ministros da Educação se sucedem, mas a má qualidade do ensino no país, sobretudo em matemática, permanece quase inalterada. O quadro se reflete tanto em testes internacionais como nas estatísticas brasileiras.
No Pisa, um dos principais parâmetros mundiais do aprendizado, o Brasil viu sua posição em matemática piorar em 2016: 66º de 70 países.
Os últimos dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) mostraram que no ensino médio a nota dos estudantes brasileiros em matemática regrediu ao nível de 2005. No fundamental 1 e 2 houve evolução, mas os resultados ficam aquém do desempenho adequado.
Para Marcelo Viana, diretor do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada e colunista da Folha, os problemas do ensino de matemática no Brasil são, em grande parte, os problemas do ensino em geral no país.
Tudo começa, segundo Viana, com professores cuja “formação, via de regra, é muito ruim”, seja no conteúdo, seja na didática. Além disso, ingressam em carreiras com baixos salários e más condições de trabalho.
Leticia Rangel, professora de matemática no Colégio de Aplicação da UFRJ, aponta uma dupla deficiência.
Segundo ela, enquanto professores das séries mais altas têm formação adequada em matemática, embora sejam pouco preparados para a sala de aula, nas séries mais baixas ocorre o oposto, com muitos mestres com formação em pedagogia e escasso saber matemático.
A essa lista de dificuldades se adiciona, segundo Viana, uma característica própria da matemática. “Se não for contextualizada, conectada com a realidade, os alunos perdem o interesse”.
Viana e Rangel defendem a base nacional curricular, que deve entrar em vigor em 2018 e prevê ensino de estatística desde o primeiro ano.
JOGOS E MEDALHAS
Professor de matemática no escola municipal Francis Hime, no Rio, Luiz Felipe Lins, 44, tem se destacado pelos resultados obtidos.
Desde 2005, nas contas de Lins, seus alunos receberam 198 medalhas em 502 olimpíadas de matemática internacionais e nacionais.
“Os resultados são a consequência de um trabalho de ressignificação da matemática”, diz. O professor dá um exemplo usado no 7º ano para ensinar o conceito de área.
Lins explicou aos alunos o que é uma planta baixa. Eles tiveram de elaborar a planta de uma casa, calcular quanto gastariam com o piso e a mão de obra, montar uma maquete e apresentar.
“Isso é muito melhor do que eu ficar dizendo que a área de um quadrado é igual ao comprimento vezes a largura”, resume o professor.
Segundo ele, é preciso estabelecer uma relação de confiança com o aluno. Lins conta o caso de uma estudante que chegou a ele após ter sido reprovada em matemática. “Descobri que ela tinha gosto por resolver problemas. No ano seguinte, ganhou medalha de prata numa olimpíada. Eu acreditei nela, e ela acreditou que era capaz.”

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