DA SALA DE AULA À COZINHA
Sirlei Vieira de Araújo, 53, se orgulha dos 25 anos de experiência como professora em escolas rurais do Acre. É a única profissional concursada na escola estadual rural São Pedro, em meio à floresta amazônica, em Bujari, a 130 km de Rio Branco.
Além de professora, Sirlei é a cozinheira. Passa atividades para os alunos na sala e corre para a cantina para fazer macarrão. “É uma rotina difícil. Os alunos acabam se dispersando. Mas me sinto feliz. Tenho 25 anos de sala de aula e prazer em ensinar.”
Na escola, são mais três professores, que cuidam da organização e limpeza. Duas ficam no alojamento da unidade e, a cada dez ou 20 dias, vão para casa, em Bujari. Já Sirlei e Dhionne Rocha Rodrigues, 24, moram com as famílias na reserva Antimari.
Eles participam do programa Asas da Florestania, que busca levar educação às regiões mais isoladas do Acre. Quando surgiu, em 2005, abrangia 367 alunos do 6º ao 9º anos em sete municípios. Hoje, são 8.400 alunos do 6º ao 9ª anos e ensino médio, em 21 cidades do Estado.
Segundo Benedita Rodrigues, assessora pedagógica do Asas da Florestania, financiado pelo governo estadual e pelo Banco Mundial, é comum o professor fazer o trabalho de outros profissionais.
Formada em letras pela Ufac (Universidade Federal do Acre), Sirlei dá aulas para crianças do 1º ao 5º anos do ensino fundamental. É o seu segundo ano na escola.
Antes, lecionava em outras unidades. Tem seis filhos. Um deles, de 17 anos, se formou na escola e agora tenta ingressar nas Forças Armadas.
“Eu também estudei em escola rural. Apesar de a tecnologia ter avançado muito nos últimos anos, o ensino permaneceu o mesmo. E a impressão que a gente tem é de que antigamente era melhor, o professor exigia mais e a família participava ativamente da educação”, afirma.
Sirlei diz que o maior desafio é garantir o aprendizado dos alunos nos primeiros anos. “A gente ainda se depara com muitos problemas na leitura e na escrita.”
O método é próprio e dividido em três grandes áreas: ciências da natureza, ciências humanas e linguagens. Os professores trabalham as disciplinas afins. Formada em história, Rosângela Gomes Dias, 29, por exemplo, dá aulas de história, geografia, filosofia e sociologia.
Tanto ela como o professor Dhionne Rodrigues e a professora Maria de Fátima Andrade, 43, ingressaram na escola por meio de análise do currículo, apesar de o governo do Estado abrir processos seletivos a cada dois anos. A justificativa é que muitos candidatos não aceitam a vaga.
IMPROVISO
A escola, toda em madeira, tem cerca de 50 alunos, do fundamental 1 ao ensino médio. Parte deles tem aulas no corredor e no refeitório.
No 2º ano do ensino médio, a estudante Joelma de Souza Freitas, 19, reclama de ter aulas no corredor. “Na sala a gente se concentra mais.”
Joelma conta que começou a estudar aos nove anos. É a segunda mais velha de cinco irmãos. Os três menores também frequentam a mesma escola, que fica a 12 km de sua casa. Quando chove, não é possível chegar à aula.
“Gostaria de fazer o curso de direito quando sair da escola, mas não sei se será possível”, diz ela, filha de agricultores e comerciantes de castanha-do-pará.
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