27 de maio de 2017

ANÁLISE - ESTÁGIO AMPLIADO


Estágio ampliado não garante que aluno aprenda a dar aula

SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os cursos de graduação que formam professores no país deveriam, a partir de junho deste ano, aumentar a carga horária de 2.800 horas para 3.200 horas -sendo 1.000 horas de “práticas pedagógicas” (que, hoje, ocupam 300 horas da grade).
A resolução do CNE (Conselho Nacional de Educação) de 2015 passaria a valer agora para todas as licenciaturas no país. O prazo, no entanto, foi dilatado.
Sob argumento de que o tempo seria curto demais para modificar os currículos das graduações, as instituições de ensino superior ganharam mais um ano para se adaptar à nova regra.
A mudança reduz a quantidade de aulas teóricas e aumenta o tempo de prática nas escolas -o estágio.
Faz sentido. Em países de educação de excelência, como a Finlândia, o estágio funciona de maneira similar à residência para medicina.
A regra do CNE afeta quase metade dos cerca de 1,5 milhão de alunos matriculados em graduações de formação de professores. Altera cursos como licenciaturas em química e em biologia.
Aumentar o tempo de estágio, no entanto, pode não garantir que o futuro professor aprenda a dar aula.
Acontece que, hoje, muitos alunos de licenciaturas fazem treinamento em escolas sem qualquer orientação e sem um plano para que, de fato, aprendam a ensinar.
Alguns desses estudantes ficam soltos nas escolas sem supervisão, outros só substituem docentes que faltam.
Mais: se o estudante de licenciatura fizer estágio apenas em escolas de excelência, como saberá lidar com a rotina de uma sala de aula envolvida em dificuldades estruturais? O inverso também é verdadeiro: como aprender metodologias de ensino de excelência se a prática docente se concentrar apenas em escolas de baixo desempenho?
Hoje, a maioria dos que estudam para ser professor está matriculada em cursos noturnos, porque trabalha. Como garantir o estágio docente de maneira eficiente nesse caso?
As práticas pedagógicas dos cursos de licenciatura devem, sim, ser ampliadas como propõe o Conselho Nacional de Educação. Mas também devem ser estruturadas para que os alunos aprendam nas horas em que passam nas escolas. Se isso não ocorrer, será tempo perdido para todo mundo -e para a educação do país.

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