29 de setembro de 2013

Pnad ambivalente

EDITORIAIS
editoriais@uol.com.br, Folha de S.Paulo, 29/9/2013
Pesquisa do IBGE mostra que renda média cresceu, apesar de ritmo lento da economia, mas traz sinais de alerta quanto ao futuro do país
Apesar do ciclo de baixa no ritmo de crescimento econômico, o rendimento médio dos brasileiros aumentou 5,6% de 2011 para 2012, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada no ano passado.
Ficou maior também o acesso da população a bens de consumo como computadores, automóveis e eletrodomésticos.
Chama a atenção que a desigualdade de renda tenha deixado de diminuir, depois de uma década de melhoras expressivas. No entanto, tal indicador de iniquidade social, relativo a apenas um ano, não diz muito sobre a tendência geral.
Em suma, há resultados notáveis e sinais de alerta.
É notável, ressalte-se, que dois anos de desempenho pífio da economia não tenham causado danos maiores à qualidade de vida média dos brasileiros.
O alerta decorre desse contraste: não é possível que os progressos na renda, no consumo e na oferta de serviços públicos sustentem-se sem a retomada de ritmo acelerado de crescimento econômico.
As evidências dessa impossibilidade têm aparecido na renitência da inflação e no crescente deficit externo --indicador de consumo excessivo em relação à capacidade produtiva da economia.
Além do mais, não é possível esperar que, dados o ritmo de evolução do PIB, a receita de impostos e o nível de endividamento do governo, seja possível ao menos sustentar as transferências sociais de renda que contribuíram para a redução da pobreza e da desigualdade.
O Brasil precisa voltar a crescer ao dobro do ritmo verificado nos anos Dilma Rousseff. Para tanto, uma das condições é o aumento da poupança e do investimento, sem o que haverá carestia e deficit externos crescentes e, enfim, estagnação. Para a restrição ao consumo pesar menos sobre a população, o governo precisa cortar despesas.
Não haverá crescimento duradouro sem que o progresso da educação seja acelerado. A Pnad mostra de novo que o tempo médio de estudo, em má escola, avança pouquíssimo, o que deixa o Brasil nas últimas posições mesmo em classificações latino-americanas.
No entanto, inexiste um programa de médio prazo de reorganização das contas públicas. Não se vê o governo liderar uma reforma do ensino, decerto atribuição básica de Estados e municípios, mas que não avançará sem incentivos e coordenação federal.
O Brasil viveu um ciclo de melhorias sociais inéditas, sem dúvida. Não se preparou, contudo, para o esgotamento dos recursos necessários à continuidade do progresso, tampouco faz planos de poupar e investir mais, e instruir-se mais e melhor.

    Nenhum comentário:

    Postar um comentário