Inclusão digital
Os dados do IBGE sobre acesso à internet e posse de telefone móvel para uso pessoal confirmam: a inclusão digital ainda é um desafio sob vários aspectos no Brasil. Constatou-se que houve crescimento substancial no número de conectados, porém ainda existem 104,7 milhões de brasileiros excluídos do mundo digital, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008 e divulgada no final do ano passado.
A expansão da renda e do crédito possibilitou que o número de brasileiros com acesso à rede mundial de computadores aumentasse 75% em três anos, passando de 32 milhões para 56 milhões de pessoas. No mesmo período, 30 milhões de brasileiros adquiriram, pela primeira vez, um celular. O total de brasileiros com linha individual soma 86 milhões – aumento de 53,6% em comparação a 2005.
O novo retrato do Brasil na internet é este: 34,8% da população está conectada – em 2005, o porcentual era 21%. O resultado é superior ao da média mundial -25,8%.
O crescimento da quantidade de incluídos ocorreu de modo mais acentuado nas Regiões Nordeste e Norte. No total, chega a 24 milhões o contigente de brasileiros que descobriram a internet entre 2005 e 2008. Em média, o novo usuário tem 27 anos de idade e renda de até um salário mínimo. Acessa a rede mundial de computadores em casa ou em uma lan house, por banda larga, e também está cadastrado no site de relacionamento Orkut para encontrar amigos.
Assim como no uso da internet, o IBGE identificou o maior salto no acesso ao celular, em termos proporcionais, entre grupos de baixa renda. Entre pessoas com renda familiar per capita entre zero e um quarto de salário mínimo, 11% tinham celular em 2005; agora, 1 em cada 4 tem o aparelhinho.
O caminho que deve ser percorrido, agora, é aquele que nos levará à universalização do acesso. Segmentos populacionais específicos, como pessoas idosas, menos escolarizadas ou ambas, ainda figuram como minoria entre os usuários. E permanece o contraste acentuado entre regiões: o Norte detém porcentual de usuários da internet de apenas 27,5%, enquanto o Sudeste conta com 40,3%.
Além disso, a comunicação entre as pessoas aparece na pesquisa como o principal motivo de acesso, superando fins educacionais e de aprendizado, em terceiro lugar.
Daí a importância de programas que operem em diversas frentes. A facilitação do acesso deve estar acompanhada da preocupação com a formação. Se há 65% de pessoas com 10 anos ou mais de idade sem acesso à internet no Brasil, e isso merece atenção e providências, também é fato que os 35% que integram a comunidade virtual nem sempre sabem aproveitá-la adequadamente. Tirar o devido proveito da tecnologia pode ser um desafio tão grande quanto ou maior do que ter acesso a ela. Para superá-lo, o papel da educação (leia-se escola) é fundamental, a começar pela própria inclusão e capacitação dos professores nas novas tecnologias.
Quanto aos estudantes, a inserção de uma disciplina como tecnologia da informação no currículo certamente contribuiria para a formação de usuários mais conscientes e aptos a maximizar o aproveitamento de ferramentas como a internet e os celulares.
Na atual era do conhecimento, é preocupante que a educação esteja perdendo espaço para a comunicação interpessoal (ainda que essa também seja de extrema importância) e o lazer na rede mundial de computadores. Esse talvez seja um indício de que a escola ainda não está suficientemente integrada às novas tecnologias e, com isso, as esteja subaproveitando.
Portanto, torna-se cada vez mais relevante a educação em ciência e tecnologia desde a infância. Ao ritmo em que avança a sociedade contemporânea, em termos de desenvolvimento científico-tecnológico, relegar esse tipo de formação a um segundo plano representa prejuízo em diversos níveis tanto para indivíduos quanto para nações.
A educação de qualidade é uma tarefa para todos e a ser desenvolvida com todos. E precisa inserir-se em clara estratégia de desenvolvimento, como o fizeram, no século 19, Argentina, Uruguai e Costa Rica, entre outros países, e, na história recente, Cuba, Irlanda, Espanha e Coreia do Sul. Agora, no início do século 21, a América Latina está na posição de perceber o que se passa no mundo desenvolvido. É tempo de correr para reduzir a distância que separa os desenvolvidos dos em desenvolvimento. O caminho mais curto está na educação.
Jorge Werthein é doutor em Educação pela Stanford University, ex-representante da Unesco no Brasil, vice-presidente da Sangari Brasil
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