16 de fevereiro de 2010

Por que esperar?

O Globo/RJ
Terça-feira, 16 de fevereiro de 2010



JORGE WERTHEIN



Discursos e debates sobre a importância da educação não faltam. Parece haver consenso. Quem discorda de que a educação é imprescindível para o desenvolvimento de um país? Uma educação de qualidade para todos é bandeira que nenhum partido ou político despreza. O que falta, então, para que países como o Brasil despontem no cenário internacional, na condição de exemplo em ensino e aprendizagem, assim como já despontam em áreas tão diferentes como os esportes, a música, a agropecuária ou a fabricação de aviões?

Tudo o que se discute em educação, na América Latina, passa antes por melhorar significativamente. a qualidade do ensino mediante uma política de Estado especifica para educação, ciência e tecnologia. Sem ela, permanecerão no horizonte as habituais políticas de curto prazo, com duração de quatro ou, no máximo, oito anos, períodos equivalentes, respectivamente, a um e dois mandatos do Poder Executivo federal, estadual ou municipal. Essa questão ainda não mereceu suficiente debate. Assim, vão-se desperdiçando tempo e dinheiro em políticas que mal se implementam e já saem de cena para que outras entrem em seu lugar.

Quem ouve os professores sabe disso. Não faltam aqueles que adotam um método hoje e precisam substituí-lo amanhã em função da dança de cadeiras no Poder Executivo local.

Áreas cruciais como a educação, a ciência e a tecnologia - estratégicas e que, por isso mesmo, demandam visão de longo prazo - não podem nem devem ficar a mercê de interesses eleitorais imediatistas. A melhor educação possível é o resultado da cooperação, da união de esforços de diversos segmentos, com o único intuito de alavancar o nível educacional do maior número possível de estudantes, sobretudo dos primeiros anos escolares.

A falta de uma política de Estado para a educação prejudica também os professores, pois não há como implementar, por exemplo, uma formação rigorosa de docentes nas universidades. O que eles encontrarão fora dos muros da academia? Tampouco é possível atrair os melhores alunos para a carreira do magistério. Os salários são pouco convidativos, e a realidade cotidiana, desestimulante. Sem formação adequada para os docentes, países como o Brasil não conseguem aumentar sua competitividade no plano internacional. Afinal, como desenvolver outras áreas sem avançar justamente naquela responsável pela formação de todas as outras?

Tudo isso já se disse. Mas todos os que o vêm repetindo experimentam a triste sensação de que se avança, porém mais lentamente do que o desejado. Há esperanças, contudo. Recentemente, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE) reuniu-se para ouvir experiências em formação científica para estudantes do ensino fundamental. A ideia é reunir insumos para um relatório de recomendação ao Ministério da Educação (MEC) sobre essa área. O CNE ensaia a proposta de uma política nacional nesse âmbito. Espera-se que a louvável iniciativa não cala no esquecimento com possíveis trocas de comando no MEC no futuro. O mesmo vale dizer, evidentemente, sobre estados e municípios, que nem sempre rezam pela mesma cartilha entre si e igualmente sucumbem à tentação de mudar a política educacional a cada mandato.

Portanto, um pacto apartidário pela educação, a ciência e a tecnologia, que dê origem a uma política de Estado para essas áreas, é imperativo. Por que não se faz? Não há consenso sobre serem essas áreas, sobretudo a educação, o eixo central do desenvolvimento neste século XXI? Por que esperar? Até quando?

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JORGE WERTHEIN foi representante da Unesco no Brasil e é vice-presidente da Sangari Brasil.





Um comentário:

  1. Dr. Jorge, gostaria de parabenizá-lo por sua matéria, tão completa. Não tem o que ser agregado, pois a realidade é essa e também me pergunto "Por que esperar???".

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