8 de setembro de 2013

Grito dos Excluídos reúne 8 mil e pede fim da violência na periferia



SÃO PAULO


Manifestantes criticam extermínio dos jovens negros nas regiões mais pobres de São Paulo, em ato na Avenida Paulista; 'Juventude' foi tema central do protesto deste ano
por Sarah Fernandes, da RBA publicado 07/09/2013 16:57
APU GOMES/FOLHAPRESS
Grito dos Excluídos
O ato terminou com a ocupação pacífica do Monumento às Bandeiras
São Paulo – Entoando gritos de “a juventude que ousa lutar constrói o projeto popular”, 8 mil pessoas marcharam hoje (7) da Praça Oswaldo Cruz à Assembleia Legislativa de São Paulo, no Grito dos Excluídos, que há 19 anos reúne trabalhadores e movimentos sociais em um ato alternativo aos desfiles oficiais de 7 de setembro. Em um protesto pacífico, os manifestantes pediam o fim da violência na periferia, em especial dos assassinatos de jovens negros cometidos pela polícia.

O Mapa da Violência de 2012 mostra que os jovens negros são as principais vítimas dos homicídios nos centros urbanos, 53% do total”, diz a carta do Grito dos Excluídos 2013, que teve como tema central a Juventude. “Responsável por parte significativa dessas mortes, a polícia paulista mata mais que toda a polícia dos Estados Unidos”, continua o texto. 

“O extermínio da juventude negra mata mais do que muitas guerras por aí”, afirmou o coordenador da Central dos Movimentos Populares, Raimundo Bonfim. “A juventude é a maior vítima do capital. Os jovens são os que ficam com os piores empregos, piores salários e piores serviços de educação e saúde.”
Ele lembrou que o Grito dos Excluídos começou em 1995, em protesto ao projeto econômico neoliberal, que ganhava força na época, com o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).  “Queríamos mostrar que havia uma força grande contrária a isso no país. Escolhemos 7 de setembro para lembrar que a independência substancial ainda não aconteceu, e só acontecerá quando todos tiverem acesso a saúde, educação e ao poder público.
Paralelo ao ato da Avenida Paulista, outro protesto do Grito dos Excluídos reuniu manifestantes na Praça da Sé, encabeçado pelas Pastorais Sociais. Segundo Bonfim, é positivo que aconteçam atos diferentes na cidade em prol dos mais pobres. “Queremos a inclusão, mas não pelo consumo e sim pela cidadania”, bradou.

Protesto em paz

Os manifestantes se concentraram desde às 8h30 e ocuparam a Avenida Paulista, que foi fechada, por volta das 10h. Eles seguiram pela Avenida Brigadeiro Luís Antônio, com acompanhamento da Polícia Militar e da Companhia de Engenharia de Tráfego, até o Parque do Ibirapuera.
Participaram representantes da Central dos Movimentos Populares, da Marcha Mundial de Mulheres, do Movimento dos Sem-Teto do Centro, do Movimento de Moradia do Centro, do Levante Popular da Juventude e da União dos Movimentos de Moradia.
“A pauta da classe trabalhadora é extensa e queremos mostrar que há uma juventude que luta por ela”, disse a estudante de Direito, Beatriz Loureiro, de 24 anos, que participava do ato na Paulista. “Essa é uma alternativa ao 7 de setembro militarizado. Não faz sentido comemorá-lo assim quando temos uma polícia militar que mata a juventude negra.”
A secretária de comunicação da Central Única dos Trabalhadores em São Paulo, Adriana Magalhães, lembrou que os jovens são os que mais sofrem com a perda de direitos trabalhistas. “Eles são a maioria dos terceirizados e dos desempregados”, disse. “Por isso estamos aqui pedindo o fim do Projeto de Lei das terceirizações (4330).”
O estudante de Economia Matias Domingo, de 20 anos, que participou do ato neste ano pela primeira vez, lembrou que o tema central da marcha é relevante por trazer à tona outros problemas sociais. “A questão dos jovens é transversal. Quando se fala neles falamos de acesso a educação, saúde e cultura”, disse. “Queremos lembrar a direita que o povo não acordou agora. Os trabalhadores e os movimentos sociais estão nas ruas há anos, lutando por direitos.”
A estudante de Direito Yasmin Casconi, de 24 anos, concordou. “Os movimentos sociais nunca dormiram. Há toda uma história de conquistas sociais.” Para o coordenador do Levante Popular da Juventude, Pedro Freitas, a onda de manifestações foi um incentivo para que a juventude participe mais da política do país. “Nossos grupos de discussão tem aumentado”, disse. “Hoje estamos aqui contra o extermínio da juventude negra e pobre e pelas cotas sociais e raciais nas universidades públicas do estado de São Paulo.”
O ato terminou com a ocupação pacífica do Monumento às Bandeiras, em frente ao Parque do Ibirapuera, uma obra que representa os bandeirantes no Brasil colonial. Ele foi tomado por faixas pedindo o fim da violência nas periferias, habitação digna e apoiando o programa Mais Médicos, do governo federal, que prevê levar profissionais para regiões pobres e isoladas onde não há médicos.

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