BRASÍLIA - O relativo "flop" registrado ontem, do ponto de vista de amplitude simbólica das manifestações, sugere que junho pode ter ficado definitivamente para trás.
Há um mês, não havia ministro ou assessor palaciano que não prenunciasse um Sete de Setembro inesquecível, em que autoridades seriam constrangidas de forma inédita.
Não foi o que aconteceu. O "maior protesto da história do Brasil", conforme pregava a fantasia de uma molecada presa à realidade virtual, desandou apenas na já habitual e lamentável pancadaria localizada.
Em Brasília, com efeito, havia muito mais polícia do que manifestante na rua. A capital do Brasil lembrava Islamabad, sua homóloga paquistanesa, quando vivia praticamente sob estado de exceção nos anos 2000.
Bloqueios, camburões em disparada por contramãos, rasantes de helicópteros, escudos, cavalos, cães. A cidade parecia viver a ameaça de uma guerra, com soldados despreparados prontos a borrifar spray de pimenta em quem se aproximasse, ativista ou profissional de imprensa.
E nem isso foi capaz de deter os incontroláveis de sempre --uns gatos-pingados sem agenda clara, com exceção daqueles que agridem jornalistas, prédios da Globo, concessionárias de carros e outros símbolos inequívocos da opressão do capitalismo maquiavélico. Bocejo.
A impressão que fica é que esses espasmos residuais dos grandes atos de junho ficarão como marca perene no cenário brasileiro. Se o gigante havia acordado, como gostam de dizer, ele resolveu tirar uma soneca algo agitada.
Mas o ímpeto inicial e novidadeiro, que apavorou políticos e obrigou os Poderes a darem sinais de que "ouviram a rua", este parece ter esmorecido. Mais respostas convencionais, como planos mirabolantes e "pactos", são previsíveis. Ao menos até uma próxima conjunção de fatores --alguém falou em Copa e campanha eleitoral em 2014?
Folha de S.Paulo,8/9/2013
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