Segundo jornal oficial, "analistas de opinião" tentam controlar o fluxo de informações na rede no país
Contingente supera o número de soldados do país; dado negativo publicado some em até 24 horas, afirma estudo
A China tem dois milhões de pessoas vigiando a internet, contingente maior que o das Forças Armadas do país.
O número, divulgado pelo jornal estatal "Beijing News", oferece uma rara pista para dimensionar o exército secreto usado pelo governo para controlar e censurar a rede.
Descritos pelo jornal como "analistas de opinião", os vigilantes da rede são empregados pelo Estado e por empresas comerciais para filtrar o que é publicado em sites, blogs e microblogs, como o popular Sina Weibo, a versão chinesa do Twitter, com milhões de assinantes.
Com a imprensa sob controle total do Estado, a internet transformou-se num dos raros canais para os chineses criticarem o governo.
Além disso, blogs têm sido usados com frequência para revelar ações impróprias ou ilegais de autoridades.
A reportagem do "Beijing News" também dá uma ideia de como trabalham os "analistas de opinião". Sem especificar onde ele atua, o jornal cita o caso de Tang Xiaotao, contratado há menos de seis meses.
"Ele passa o dia na frente do computador e, por meio de um aplicativo, vigia as palavras escolhidas pelos clientes", diz o relato. "Em seguida, monitora opiniões negativas relativas aos clientes e faz relatórios".
BATALHÃO
O batalhão de censores está prestes a aumentar, afirma o jornal. O governo organizará na próxima semana um treinamento para monitores em oito módulos, que ensinará a "analisar, julgar mensagens on-line e lidar com situações de crise".
Caso seja verdadeiro, o número de vigilantes citado pelo "Beijing News" supera em muito o contingente militar da China, que totaliza 1,48 milhão de soldados.
No jargão dos internautas, os monitores são chamados de "wu mao" (5 centavos, em mandarim), pela quantia que receberiam do governo toda vez que apagam um comentário negativo ou publicam algum positivo.
O governo chinês raramente dá detalhes de seu amplo e sofisticado sistema de monitoramento da internet.
Mas a rapidez com que mensagens são apagadas já fazia supor que havia um exército de censores em ação. Segundo números oficiais, a China tem 564 milhões de usuários de internet.
CINCO MINUTOS
Em um estudo feito no início do ano, dois cientistas da computação norte-americanos, Jed Crandall e Dan Wallach, concluíram que uma mensagem indesejada publicada na internet chinesa pode levar apenas cinco minutos para ser deletada --e no máximo, 24 horas.
O governo chinês apertou o cerco à liberdade na internet recentemente, com a aprovação de uma lei contra rumores na rede. Caso uma mensagem considerada ofensiva seja vista por 5.000 pessoas, o autor pode ser punido com prisão.
Um levantamento divulgado há poucos dias pela ONG norte-americana Freedom House posiciona a China entre os países com menor liberdade na internet, entre 60 analisados. O país só ficou à frente de Cuba e do Irã.
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