RIO DE JANEIRO - O elogiado secretário de Segurança do Rio, o gaúcho José Mariano Beltrame, parece estar vivendo momentos de "sincericídio".
Há cerca de um mês, em uma entrevista ao jornal "O Globo", ele anunciou a opção por policiais recém-formados, "sem os vícios da guerra e da corrupção", para trabalhar nas novas delegacias a serem implantadas em UPPs. Intramuros, a corporação reagiu. Indignada.
Nesta semana, à Folha, o secretário abriu o jogo sobre os dramas do momento atual. Um dia depois de sua polícia ter colocado 64 adultos e 20 menores atrás das grades, a maior parte enquadrada na nova lei federal do crime organizado, ele admitiu não saber se o instrumento é, de fato, o ideal.
A lei não prevê fiança, e sim pena de três anos a oito anos, podendo aumentar com agravantes. Polêmica, sua aplicação no contexto das manifestações vem sendo atacada no meio jurídico.
"É algo muito novo. Quem sabe a saída não seja agravar o crime de dano ou criar o tipo penal de vandalismo", refletiu.
O secretário reconheceu que a polícia é lenta na inteligência, fica sabendo dos protestos quase ao mesmo tempo que todo mundo no Facebook, o que dificulta a investigação sobre a articulação dos grupos. Contou ainda ter dito ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a polícia do Rio não teria a menor condição de assumir o policiamento das manifestações previstas para o dia do primeiro leilão do pré-sal, na segunda-feira. Motivo? A PM está exausta, alegou o secretário, passados mais de cem dias de protestos nas ruas.
O reconhecimento de deficiências é, sem dúvida, saudável. Resta saber o que está sendo feito para saná-las. Se o Rio já parece ter virado um dos principais epicentros da indignação nacional, os próximos eventos no calendário indicam que o ano de 2014 pode ficar bem pior.
Folha de S.Paulo, 19/10/2013
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