31 de outubro de 2014

Aumenta desigualdade entre homens e mulheres no mercado formal de trabalho, aponta IBGE


Aumentou o percentual de mulheres com carteira de trabalho, mas o índice cresceu mais entre os homens - Editoria de arte
RIO - Dados da pesquisa “Estatísticas de Gênero”, divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE, mostram que cresceu a desigualdade entre homens e mulheres no mercado formal de trabalho, embora tenha aumentado a proporção de pessoas do sexo feminino em idade economicamente ativa trabalhando ou buscando emprego — a chamada taxa de atividade. O estudo, elaborado com base em dados do Censo 2010, conclui ainda que as diferenças salariais entre elas e eles ainda é grande, já que as mulheres recebem cerca de 70% do rendimento médio dos homens. Além disso, subiu o número de pessoas de sexo feminino que trabalham por conta própria. Outra estatística do estudo chama atenção: um terço das mulheres de 16 anos ou mais não apresentam qualquer rendimento.
A pesquisa aponta que vem diminuindo o abismo entre a participação de homens e mulheres no mercado. Ainda que a taxa de atividade dos homens seja superior à das mulheres, essa diferença caiu de quase 30 pontos percentuais em 2000 para pouco mais de 21 em 2010, o que se deve não apenas ao maior crescimento desta taxa entre as mulheres, mas também à sua redução entre os homens. A variação foi de 79,7% para 75,7% entre o sexo masculino e de 50,1% para 54,6% entre o feminino. Com o corte por idade, o IBGE verificou que, entre as jovens mulheres, a taxa de atividade cresceu de forma mais branda que o observado para os demais grupos etários.
Apesar do aumento do emprego ou da procura por um trabalho entre as mulheres em idade economicamente ativa, no quesito formalização, a situação feminina continua desfavorável. A formalização entre as mulheres passou de 51,3% para 57,9%, mas foi inferior ao observado entre os homens: de 50% para 59,2%. Essa taxa é a porcentagem da população ocupada em trabalhos formais. O maior índice entre as mulheres está em Florianópolis e a menor, em Belém.
No recorte envolvendo o emprego com carteira assinada, a proporção de homens com carteira assinada cresceu mais do que a das mulheres. Esse índice aumentou de 32,7% em 2000 para 39,8% em 2010 entre as trabalhadoras. No caso das pessoas de sexo masculino, esse crescimento foi mais acentuado: de 36,5% para 46,5%.
- O aumento da formalização dos homens foi mais intensa do que a das mulheres. Os homens já tinham um indicador maior que o das mulheres, e quando o indicador deles acelera mais que o das mulheres, embora o das mulheres tenha avançado, você aumenta um pouco a desigualdade nesse fator - afirmou Bárbara Cobo, da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE.
Outro dado do levantamento é que aumentou a proporção de mulheres trabalhadoras com 16 anos ou mais que atuam por conta própria. Esse índice era de 16,7% em 2000 e 17,3% em 2010. No caso do homem, houve redução, de 28,2% para 24,7%.
MULHERES RESPONSÁVEIS PELAS FAMÍLIAS
O IBGE, com base em dados coletados no Censo 2010, verificou que a proporção de famílias que tinham a mulher como responsável foi de 37,3% em 2010. Em 2000, esse percentual era 22,2%. Essa situação acontecia mais nas áreas urbanas (39,3%) do que no meio rural (24,8%). A pesquisa concluiu que em 87,4% desses casos, a família é constituída pela mulher e por filhos, sem cônjuge. O instituto fez um cruzamento que confirmou que 30,3% das famílias que contam com filhos de até 5 anos de idade têm a mulher como responsável. A cidade em que mais mulheres são responsáveis pelas famílias é Pugmil, em Tocantins.
Quando o Censo se refere a domicílios - e não somente a famílias -, a pesquisa constata que 38,7% das mulheres são responsáveis pelas casas. Isso porque, numa mesma residência, podem morar dois núcleos familiares distintos. A mulher e o marido, com filhos, que moram junto com os sogros são considerados como famílias conviventes.
UM TERÇO DAS MULHERES NÃO TÊM RENDIMENTO
O instituto analisou ainda a contribuição de cada gênero para a composição da renda familiar e constatou que, em 2010, as mulheres de 10 anos ou mais contribuíam em média com 40,9% do rendimento da família — contra 33% em 2000 — e o homem, com 59,1%. Esse percentual é diferente, de acordo com a estrutura familiar: para aquelas formadas por casais, as médias da participação do rendimento feminino foram de 33,5%, quando não havia filho; e de 31,7%, quando havia filho na família, enquanto nas chamadas famílias monoparentais – com a mulher responsável e sem cônjuge e com filho – o indicador atingiu 70,8%. Quanto mais baixo é o rendimento da família, maior a contribuição percentual da mulher.
A pesquisa do IBGE mostrou que ainda é alto o percentual de mulheres de 16 anos ou mais sem qualquer tipo de rendimento. Em 2010, a taxa era de 30,4%, contra 45,3% em 2000.
MAIS IDADE, MAIS DESIGUAL
Pela primeira vez, o instituto fez uma comparação entre os grupos nos extremos das tabelas, os homens brancos e as mulheres pardas. Verificou que o rendimento médio das mulheres pretas ou pardas (R$ 727) correspondia a 35% do rendimento médio dos homens brancos (R$ 2.086).
O rendimento médio da população ocupada aumenta com a idade para ambos os sexos, assim como a desigualdade de rendimento por sexo. Isso significa que, quando entram para uma empresa como estagiários, por exemplo, homens e mulheres recebem o mesmo salário. A diferença passa a existir na medida em que vão ganhando experiência. Em média, as jovens de 18 a 24 anos de idade recebiam 88% do rendimento dos homens, enquanto as mulheres de 60 anos ou mais de idade apresentavam um rendimento equivalente a 64% do rendimento dos homens nesta faixa etária. A maior desigualdade entre os rendimentos médios de homens e mulheres está em Tocantins.
- Já de algum tempo para cá, as mulheres têm se escolarizado mais, são maioria entre os universitários, têm maior taxa de frequência escolar, menos atraso escolar em relação aos homens. Mas, por motivos que vão além das perspectivas educacionais, você não vê esse maior preparo das mulheres sendo refletido no mercado de trabalho. Um dos vários motivos que a gente pode apontar é a questão da maternidade. A mulher ainda enfrenta a questão da dupla jornada de trabalho. Os cuidados com a família e com os afazeres domésticos estão substancialmente a cargo das mulheres. As mulheres têm que conciliar trabalho, maternidade e afazeres domésticos - explica Bárbara.
NA ÁREA DA SAÚDE, UMA DAS MAIORES DIFERENÇAS SALARIAIS
O estudo mostra que as áreas gerais de formação nas quais as mulheres de 25 anos ou mais de idade estão em maior proporção — Educação (83,0%) e Humanidades e Artes (74,2%) — são justamente as que registram os menores rendimentos médios mensais entre as pessoas ocupadas (R$ 1.810,50 e R$ 2.223,90, respectivamente).
Outro dado mostra que o rendimento feminino não se iguala ao masculino em nenhuma das áreas gerais. Isso se mantém mesmo quando a proporção de mulheres se torna equivalente à dos homens, em áreas como Ciências Sociais, Negócios e Direito, em que as trabalhadoras es recebiam apenas 66,3% do rendimento dos homens. As maiores diferenças salariais entre os dois gêneros estão principalmente nos setores de serviços (no qual mulheres recebem 53,2% do rendimento médio dos homens), saúde e bem estar social (na qual o percentual é de 55,6%), além de agricultura e veterinária (cuja razão é de 62,5).

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