Confiança é bom, mas controle é melhor. O dito germânico se aplica bem à questão das fraudes em pesquisa, que podem se transformar em epidemia se não forem combatidas por instituições de pesquisa e órgãos financiadores.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) saiu na frente. Lançou em 2011 um código de conduta e agora publica o resultado dos cinco casos cujo exame já foi concluído.
Fabricação de dados, imagens fraudadas, falsa coautoria e plágio passam doravante a constar na folha corrida de cinco pesquisadores. Além de terem bolsas e auxílios cancelados, alguns ficarão impedidos por até três anos de pedir financiamento à Fapesp.
Desde 2011 foram concluídos 25 processos de investigação, com responsabilização de dez pesquisadores. Cinco desses dez casos foram publicados porque já se esgotou o prazo para recursos. Há outras 22 investigações em andamento.
Parece pouco um total de 47 ocorrências em três anos, em meio a mais de 20 mil pedidos anuais de bolsa e auxílio à pesquisa avaliados pela Fapesp. É provável, no entanto, que se trate de parcela ínfima das fraudes praticadas.
Mesmo que sejam menores, no Brasil, os incentivos à má conduta científica, como a competitividade e a pressão pela publicação de resultados, predomina por aqui uma cultura de leniência e compadrio.
É mais provável que o baixo número decorra do caráter recente da iniciativa e da má imagem atribuída a denunciantes. Não há razão para crer que o Brasil se desvie das cifras estimadas no exterior.
Artigo de Daniele Fanelli publicado em 2009 no periódico científico "PLoS One" revisou dados de outros 21 estudos e concluiu que 2% dos pesquisadores admitem ter fabricado ou falsificado resultados; 34% confessam ter incorrido em outras formas de má conduta (como plágio). Ao falar de colegas, 14% apontaram saber de fabricação e falsificação de dados, e 72% de práticas questionáveis.
Se vários cientistas se dedicarem a tentar reproduzir estudos fraudados, haverá enorme desperdício de tempo e recursos. No caso da Fapesp, recursos do contribuinte.
Faz bem a fundação em exercer um controle ferrenho e dar publicidade ao que apura. Respeitado o amplo direito de defesa dos investigados, expor as mazelas comprovadas à vista de todos é a melhor maneira de desincentivar novas ocorrências e de sanear uma atividade nobre, que depende da credibilidade para cumprir sua função.
Fiolha de S.Paulo, 10/10/2014
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