Há duas explicações para a nomeação do ex-governador do Ceará Cid Gomes ministro da Educação, uma função estratégica. Uma, o interesse do Planalto em dar espaço ao PROS para contrabalançar a dependência que tem em relação ao PMDB no Congresso. Outra, devido a experiências bem-sucedidas na política educacional de Cid, principalmente na sua base eleitoral, a cidade de Sobral.
Seja válida uma ou outra, ou mesmo a mistura das duas, Cid Gomes recebe o MEC num momento difícil. Consta até que ele preferiria passar um período distante da política brasileira, em alguma instituição multilateral em Washington. Mas terminou ministro da Educação quando vários indicadores apontam para a enorme dificuldade de o país transferir para o ensino médio os avanços, ainda tímidos, conquistados na fase inicial do ciclo básico, o fundamental.
Com poucos dias no MEC, Cid Gomes tem diante de si o péssimo resultado na prova de redação do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), de 2014, em que houve uma queda de 9,7% da nota média em relação ao exame anterior, e com o recorde de 529 mil candidatos, 8,5% do total, com o conceito zero. Mesmo que a dificuldade do tema — “publicidade infantil” — tenha contribuído para isso, trata-se de mais um alerta ao MEC e à sociedade sobre a qualidade do ensino. Em Matemática também houve queda (de 7,3%), preocupante dada a importância da disciplina para áreas de que qualquer país depende, a fim de se desenvolver de maneira equilibrada — tecnologia, pesquisas etc. A melhoria em Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Linguagens não compensa a má avaliação em Matemática.
Cid Gomes teve êxito, no seu estado, ao aprimorar a qualidade do ensino fundamental. Há avanços em várias outras regiões, e eles se traduzem no atingimento de metas parciais pactuadas entre governos e organizações da sociedade, um projeto cujo objetivo final é se chegar em 2022 à nota média (6,0) no ensino básico que têm hoje os países mais desenvolvidos, congregados na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Sem melhorar o ensino médio, o Brasil não atingirá o alvo. Um problema que abrange as escolas particulares, também mal avaliadas quando comparadas com o mundo desenvolvido.
Cid defende, e é correto, um currículo nacional, bem como a revisão do ciclo Médio, no qual as disciplinas seriam divididas em “exatas” e “humanas”, como nos antigos Clássico e Científico, para o jovem se adequar à carreira que pensa em seguir. O enciclopedismo tem mesmo levado à superficialidade no aprendizado.
Enquanto se faz o necessário debate, os consensos mínimos precisam se implementados, porque a percepção é que as melhorias estancaram, enquanto o tempo passa. Mas o pior que pode acontecer é o MEC ser apenas uma base para o exercício de política partidária.
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