RIO - Quando divulgado, o ranking do Enem costuma atrair a atenção para quem aparece no topo. Há casos, no entanto, de redes de escolas com várias unidades que podem estar tanto nas primeiras posições nacionais quanto em lugares mais modestos na lista divulgada pelo MEC. Um levantamento feito pelo GLOBO em oito grandes redes do Estado do Rio com ao menos quatro unidades com médias divulgadas no Enem mostra a enorme variação em alguns casos e revela como ficaria a posição de cada uma caso elas aparecessem com apenas uma unidade que agregasse todos os alunos.
A maior rede do Rio, em número de unidades com notas no Enem, é o Pensi (Ponto de Ensino). Por causa do excepcional desempenho dos alunos de uma unidade da Tijuca com 15 estudantes que fizeram o exame, o Pensi apareceu pela primeira vez no topo do ranking de escolas do Rio, e em terceiro no país. A escola, no entanto, tem outras 12 unidades com médias no Enem. A que obteve a pior posição entre elas ficou no 2.105º lugar no ranking nacional de 14.715 mil instituições, elaborado pelo GLOBO a partir da média das provas objetivas. Se os alunos do Pensi fossem agrupados numa média só, a instituição ocuparia o 652º lugar no ranking nacional.
Outras redes de escolas do estado também tiveram variações mais ou menos significativas do que essa. O colégio PH, por exemplo, com sete unidades, tem como melhor desempenho entre seus colégios a 74ª posição do ranking nacional, enquanto o de pior colocação ocupa a 274ª no mesmo levantamento. No conjunto da rede, ela seria a 127ª nacionalmente. Já o Centro Educacional Santa Mônica, com dez unidades, varia da 2.386ª colocação para a 7.970ª e, na média, ficaria na posição 3.391. O Sistema Elite, com 11 unidades, tem escolas na 1.655ª e na 3.431ª colocações. Na média, seria o 2.258º.
O excepcional desempenho de uma unidade do Pensi com poucos alunos levou concorrentes a suspeitarem de que a escola estaria utilizando a mesma estratégia da rede Objetivo, de São Paulo, que mantém uma unidade de alunos de melhor desempenho funcionando no mesmo endereço de outra. No caso do Objetivo, a primeira, com apenas 44 alunos, é a melhor colocada do ranking nacional. A segunda, no mesmo endereço, mas com 209 estudantes que fizeram o Enem, é a 569ª.
— Ficou evidente neste ano que alguns colégios criaram turmas só para aparecer lá na frente — diz, sem citar nomes, o diretor-geral da rede PH, Rui Gomes de Sá.
O Pensi nega que utilize este artifício. Bruno Elias, diretor-geral do grupo, afirma que a unidade da Tijuca com apenas 15 alunos é direcionada aos que se preparam para disputados vestibulares de instituições militares, como o IME (Instituto Militar de Engenharia) e o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), que tendem a se sair melhor nos exames por terem esse foco. Ele diz que não há nenhum tipo de seleção dos melhores, e que qualquer estudante pode estudar lá, desde que haja vagas.
— É uma unidade pequena, de alunos que estão conosco ao menos desde a primeira série do ensino médio, e com foco nos vestibulares militares. Neste ano, 70% dos aprovados no IME e no ITA vieram de nossas unidades. Mas, se houver vaga, qualquer estudante pode ingressar em qualquer unidade do Pensi. Não excluímos ninguém por causa de baixo desempenho, em nenhuma de nossas unidades. Basta haver vaga na turma — afirma Bruno Elias.
No caso do Pensi, diferentemente do que ocorre com o Objetivo, de São Paulo, a unidade com bom desempenho na Tijuca funciona em endereço diferente de outra no mesmo bairro, que teve 78 alunos inscritos no Enem e ficou na 958ª posição no ranking nacional. Segundo Elias, outras unidades da rede não tiveram o mesmo desempenho por serem maiores, e terem maior disponibilidade de vagas, aceitando alunos que ingressam na escola apenas no terceiro ano do ensino médio.
— Aceitamos em qualquer unidade, desde que haja vaga, até alunos que ingressam apenas no terceiro ano, e que, eventualmente, trazem deficiências de outras escolas. Diferentemente do que fazem outras escolas, começamos com pouca gente no primeiro ano, e muitos vão entrando no meio do caminho.
Histórico de polêmica
O bom desempenho de uma unidade de elite do colégio Objetivo em São Paulo gerou polêmica desde a primeira vez em que a escola apareceu entre os primeiros no ranking. Apesar da queixa de concorrentes, o Objetivo sempre negou ter criado a unidade apenas para aparecer entre os primeiros do ranking. Há duas semanas, o professor Mateus Prado, em seu blog no site do jornal “O Estado de S. Paulo”, voltou a criticar essa prática.
O MEC argumenta que não elabora rankings (eles são feitos pelos jornais, a partir de informações fornecidas pelo ministério). Neste ano, porém, para relativizar o bom desempenho de unidades com um número pequeno de estudantes, divulgou também a média de escolas considerando somente os 30 melhores alunos em cada disciplina.
No ranking de escolas do Rio elaborado pelo GLOBO, por exemplo, algumas instituições teriam queda significativa caso somente seus 30 melhores alunos em cada disciplina fossem considerados. Por esse recorte novo, por exemplo, a liderança do ranking não seria da unidade do Pensi com apenas 15 alunos. O Santo Inácio, com 226 estudantes que fizeram o Enem, seria a melhor do Rio.
Com tantas possibilidades de interpretar o ranking do Enem, mesmo colégios que apareceram com algumas unidades entre os primeiros afirmam que os pais não devem basear a escolha da escola apenas com base nos levantamentos divulgados pela imprensa a partir de dados oficiais.
— Sempre fomos contra esse modelo de rankings. Achávamos que ele não media muita coisa, e continuamos achando isso — diz Bruno Elias, do Pensi.
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