SÃO PAULO - O reitor da USP, Marco Antonio Zago, propõe que, depois de formados, alunos da instituição prestem serviços à sociedade, como contrapartida pelo ensino gratuito ali recebido. A ideia tem certo apelo, principalmente para aqueles cujas simpatias pendem para a esquerda. Receio, porém, que, se implantada, a proposta teria impacto negativo sobre a USP.
A qualidade de uma instituição depende de vários fatores, mas um, ao qual raramente se dá o devido peso, é a capacidade de atrair estudantes de alto desempenho. O curso de medicina da USP, por exemplo, goza de melhor reputação do que os de várias boas escolas concorrentes, entre outras razões, porque é para lá que tendem a ir aqueles candidatos que passam em todos os vestibulares. Há algo de tautológico aqui, já que se invoca o sucesso para explicar o sucesso, mas o mundo está mesmo repleto desses paradoxos, como se vê no caso das listas de músicas mais populares ou das celebridades.
Se a USP passasse a exigir um período de trabalho compulsório de seus egressos, sua capacidade de atrair os melhores candidatos diminuiria. Em várias carreiras, os cursos dados em universidades federais são igualmente bons e não teriam essa mensalidade travestida de serviço social. Ponto a favor deles.
É verdade que, para muitos alunos da USP, pagamento não é um problema. Neste caso, a concorrência não seria só com instituições públicas, mas também com privadas, que, em áreas como direito e economia, já oferecem programas de excelente qualidade. E, para quem tem dinheiro, empenhar tempo futuro tende a ser uma atribulação mais imobilizante do que o valor de uma mensalidade. Ponto a favor das particulares.
Se a USP está mesmo disposta a sacrificar algo de sua atratividade, é melhor que pelo menos alivie sua difícil situação financeira, passando a cobrar mensalidades em vez de uma extemporânea corveia.
Folha de S.Paulo,21/1/2015
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