Presidente Dilma elegeu a educação como a prioridade de seu segundo mandato; espera-se que as necessárias reformas se concretizem
Divulgados na terça-feira (13), os resultados do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) trazem alguns motivos para preocupação.
Considerados apenas os concluintes da última etapa escolar, a nota média em redação e matemática de 2014 ficou, respectivamente, 10% e 7% abaixo da atingida no ano anterior. No caso da prova escrita, a pontuação média (471,8) não chegou nem à metade do máximo possível (1.000).
O desempenho dos alunos veio a público duas semanas depois de, no seu discurso de posse no Ministério da Educação, Cid Gomes (Pros) ter prometido uma reforma no ensino médio. Os péssimos indicadores do Enem decerto reforçam a necessidade de mudanças.
O ministro também acerta no foco. Essa etapa de ensino tem registrado os piores resultados no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica); além disso, foi a única cuja nota ficou estagnada na última avaliação.
Como consequência das inúmeras deficiências, só 9% de seus concluintes alcançam o nível esperado de conhecimento em matemática, com a capacidade para calcular juros e porcentagens, por exemplo.
Melhorar a qualidade do ensino médio é urgente, e essa tarefa será facilitada se o Brasil adotar de fato um currículo nacional único. Além de fixar um padrão em todo o país, proporcionando mais equidade à educação, a medida ajudaria no preparo dos professores --eles aprenderiam a ensinar esses conteúdos determinados, com ganhos óbvios para os estudantes.
Garantida essa base comum obrigatória, a oferta de conteúdos optativos viria sem prejuízo à formação geral dos jovens discentes. Defendida por especialistas e que consta da Lei de Diretrizes e Bases, essa diversificação permitiria que cada um se aprofundasse nas áreas de maior interesse.
Tais avanços, por óbvio, dificilmente se concretizarão sem que os docentes estejam devidamente capacitados e motivados. Quanto a esse aspecto, no entanto, ainda há muito a ser feito por aqui.
Apesar do recente aumento de 13%, o piso nacional do magistério (R$ 1.918) ainda fica abaixo do vencimento médio calculado nas seis maiores regiões metropolitanas do país (R$ 2.148).
Se a valorização salarial deve estar no horizonte, o mesmo se diga de um plano de carreira promissor, que contemple a promoção por mérito, e de medidas que incentivem o esforço individual, como o bônus por desempenho. Sem isso, a educação, sobretudo no setor público, continuará perdendo talentos.
Sendo tantos os problemas da escola brasileira, fez bem a presidente Dilma Rousseff (PT) em alçar a educação à condição de prioridade de seu segundo mandato. Resta torcer, infelizmente sem muita credulidade, que sua proclamação não se esgote na retórica.
Folha de S.Paulo, 17/1/2010
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