Olimpíada do Rio é o maior ativo diplomático do governo no início deste segundo mandato de Dilma
Acaba de começar o mais novo ciclo de superexposição do Brasil à mídia internacional. Durante os próximos 570 dias, o país ocupará rádios, televisões e redes sociais do mundo inteiro na esteira da Olimpíada do Rio de Janeiro.
É o maior ativo diplomático do governo no início deste segundo mandato. Assim como ocorreu na Copa, também se trata de um risco.
Desta vez, porém, as autoridades responsáveis contam com experiência acumulada e uma lição: a Copa, apesar de bem organizada, foi mal vendida em casa e no exterior.
Um dos problemas foi a ausência de uma estratégia para usar os jogos como alavanca de projeção internacional. Comemos mosca.
O Itamaraty não montou um plano de ação, cronograma de atividades ou projeto de atração de formadores de opinião estrangeiros.
Não instruiu os embaixadores a redigirem avaliações de risco ou sugestões práticas para avançar nossas prioridades em países-chave.
Não foram nomeados brasileiros notáveis para rodar o mundo fazendo propaganda, nem se convidaram aqueles que residem fora a ajudar no esforço.
De modo geral, a atitude da política externa oscilou entre dois polos igualmente improdutivos. Ora se tratou da Copa como coisa menor a ser relegada a gente do Esporte e do Turismo, ora como batata quente a ser evitada.
Assim, quando a cobertura negativa passou a tomar conta do noticiário internacional, não tínhamos instrumentos para reagir. Quando alguns embaixadores foram para o campo de batalha, fizeram-no por impulso próprio e munidos de seu talento individual apenas.
No fim, tudo deu certo porque, apesar dos inevitáveis fios desencapados, a festa estava bem organizada. E o alto-astral e a capacidade de acolher do brasileiro foram nosso mais valioso patrimônio.
Agora, aproveitando o frescor do novo mandato presidencial, a Olimpíada permite escrever uma história melhor.
Se o governo mobilizar sua vasta rede de embaixadas e consulados, em poucos meses trará dividendos.
Alguns são óbvios, como a promoção da marca Brasil e a atração de compradores, investidores e estudantes.
Outros são urgentes, como a criação de uma vocação de turismo para o Rio de Janeiro, que ainda não a possui.
O maior dividendo é político. Quando Londres sediou os últimos Jogos Olímpicos, por exemplo, o país amargava uma recessão, taxas alarmantes de desconfiança no governo e o baque de violentos protestos de rua.
"A rápida metamorfose de um estado geral de pessimismo para a febril autocongratulação dos últimos dias", concluiu um telegrama da embaixada brasileira ao fim do torneio, "garantiu ao país inegáveis ganhos de imagem".
É perfeitamente plausível imaginar algo similar no caso brasileiro.
O trabalho de uma força-tarefa de política externa para a Olimpíada não precisará ser custoso nem complexo.
Em tempo de vacas magras, certamente demandará criatividade. Mas tem muita coisa em jogo para a gente nem sequer tentar.
folha de s.paulo, 7/1/2015
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