Folha de S.Paulo, 3/10/17
Antes de chegarem ao poder, os nazistas já combatiam a arte moderna, considerada "degenerada". Em 1927, o teórico Alfred Rosenberg acusou a livre e subjetiva estética moderna de desequilíbrio. A massificação dessa ideia seduziu milhões de alemães.
Em 1929, Rosenberg defendeu que o nazismo se preocupasse com a cultura, além da política e da economia. Quando Hitler assumiu, em 1933, o modernismo já estava ligado à imagem de degeneração.
Ele proibiu a diversidade criativa: "Iremos empreender uma guerra implacável contra os últimos remanescentes da desintegração cultural". Quatro mil obras foram incineradas. Chagall, Kandinsky, Munch, Klee, Mondrian e o nosso Lasar Segall foram banidos.
Em 2001, o Talebã ordenou a destruição de todas as estátuas do Afeganistão e bombardeou a maior imagem de um buda do mundo, patrimônio da humanidade. "Somente Alá, o Todo-Poderoso, merece ser cultuado". O Estado Islâmico destruiu a cidade assíria de Nimrud, um museu em Mossul (Iraque) e as ruinas de Palmira (Síria). "As obras estimulavam a adoração de imagens, contrariando o islamismo".
São muitos os exemplos de intolerância religiosa, de repressão cultural e de censura promovidos pelo totalitarismo. Isso parecia distante do Brasil. Mas, repentinamente, o monstro submerso aflorou, em um setembro tenebroso.
Em Nova Iguaçu (RJ), uma umbandista foi apedrejada pela vizinha evangélica. Uma ialorixá, acusada de bruxaria, macumbeira e feiticeira-mor, foi atacada por sete homens. Tinham ordens para atacar os terreiros. Em frente ao terreiro, deixaram o recado: "Só Jesus salva". Casos como esse cresceram 4.940% entre 2011 e 2016.
Em Porto Alegre, ativistas colocaram a exposição Queermuseu no índex. Pela internet, mobilizaram milhares de simpatizantes, que atacaram dezenas de agências do Santander, em todo o país. O Santander encerrou a exposição, cedendo aos nossos "talebãs".
Em Campo Grande, uma pintura foi retirada de um museu pela polícia. Em Jundiaí (SP), um juiz interrompeu a exibição da peça "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu". "A peça era atentatória à dignidade da fé cristã".
Agora tivemos esse ataque de grupos conservadores contra o MAM, uma das instituições mais importantes do país.
O enraizamento das ideias fundamentalistas na sociedade é um risco incalculável. Crescem a intolerância, o ódio e a censura, estimulados por políticos que apoiam essas ações, como Bolsonaro e Doria.
É necessário um entendimento amplo em defesa dos princípios básicos que coloque a liberdade religiosa, cultural e de expressão em primeiro plano para barrar o recrudescimento das ideias totalitárias. Afinal, 56% da população ainda defende a democracia.
Antes de chegarem ao poder, os nazistas já combatiam a arte moderna, considerada "degenerada". Em 1927, o teórico Alfred Rosenberg acusou a livre e subjetiva estética moderna de desequilíbrio. A massificação dessa ideia seduziu milhões de alemães.
Em 1929, Rosenberg defendeu que o nazismo se preocupasse com a cultura, além da política e da economia. Quando Hitler assumiu, em 1933, o modernismo já estava ligado à imagem de degeneração.
Ele proibiu a diversidade criativa: "Iremos empreender uma guerra implacável contra os últimos remanescentes da desintegração cultural". Quatro mil obras foram incineradas. Chagall, Kandinsky, Munch, Klee, Mondrian e o nosso Lasar Segall foram banidos.
Em 2001, o Talebã ordenou a destruição de todas as estátuas do Afeganistão e bombardeou a maior imagem de um buda do mundo, patrimônio da humanidade. "Somente Alá, o Todo-Poderoso, merece ser cultuado". O Estado Islâmico destruiu a cidade assíria de Nimrud, um museu em Mossul (Iraque) e as ruinas de Palmira (Síria). "As obras estimulavam a adoração de imagens, contrariando o islamismo".
São muitos os exemplos de intolerância religiosa, de repressão cultural e de censura promovidos pelo totalitarismo. Isso parecia distante do Brasil. Mas, repentinamente, o monstro submerso aflorou, em um setembro tenebroso.
Em Nova Iguaçu (RJ), uma umbandista foi apedrejada pela vizinha evangélica. Uma ialorixá, acusada de bruxaria, macumbeira e feiticeira-mor, foi atacada por sete homens. Tinham ordens para atacar os terreiros. Em frente ao terreiro, deixaram o recado: "Só Jesus salva". Casos como esse cresceram 4.940% entre 2011 e 2016.
Em Porto Alegre, ativistas colocaram a exposição Queermuseu no índex. Pela internet, mobilizaram milhares de simpatizantes, que atacaram dezenas de agências do Santander, em todo o país. O Santander encerrou a exposição, cedendo aos nossos "talebãs".
Em Campo Grande, uma pintura foi retirada de um museu pela polícia. Em Jundiaí (SP), um juiz interrompeu a exibição da peça "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu". "A peça era atentatória à dignidade da fé cristã".
Agora tivemos esse ataque de grupos conservadores contra o MAM, uma das instituições mais importantes do país.
O enraizamento das ideias fundamentalistas na sociedade é um risco incalculável. Crescem a intolerância, o ódio e a censura, estimulados por políticos que apoiam essas ações, como Bolsonaro e Doria.
É necessário um entendimento amplo em defesa dos princípios básicos que coloque a liberdade religiosa, cultural e de expressão em primeiro plano para barrar o recrudescimento das ideias totalitárias. Afinal, 56% da população ainda defende a democracia.
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