6 de outubro de 2017

No Brasil, opinião autoritária sobre segurança é histórica, Claudio Beato


José Lucena/Futura Press/Folhapress
Tiroteio em um dos acessos à favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, fecha a autoestrada Lagoa-Barra nos dois sentidos
Tiroteio em um dos acessos à favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro
Uma das ameaças no horizonte das eleições de 2018 é um espectro do conservadorismo e de radicalismos autoritários, traduzidos no discurso de alguns candidatos, especialmente no tocante à segurança pública. A pesquisa apresentada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Datafolha procura mensurar essa possibilidade.
No livro "What We Say, What We Do" (o que dizemos, o que fazemos), de 1973, Irwin Deutscher trata da discrepância entre o que as pessoas dizem publicamente e como elas se comportam em situações reais.
O uso da concordância com frases de apoio a uma agenda de direitos civis, da mesma forma que a propensão a posições autoritárias, deve ser lido a partir da dissonância entre sentimentos e atos. Uma coisa não se traduz necessariamente na outra.
De qualquer maneira, os resultados são consistentes com o que esperamos de entrevistados numa pesquisa desse gênero : quanto menor a escolaridade, maior a propensão a posições autoritárias; quanto menor a faixa socioeconômica, maior o autoritarismo; mais medo, maior apoio a posições autoritárias.
Contudo, precisaríamos saber mais acerca dos fatores mais determinantes e que podem se traduzir num comportamento eleitoral. O que, de fato, determina o grau de autoritarismo? Em que medida?
A segunda dimensão, mais ampla, refere se a um certo ceticismo institucional prevalecente em análises políticas. Em virtude da crise política e do descrédito dos políticos, acredita se que os partidos e suas máquinas não vão funcionar mais como mecanismos de mobilização.
Isso ensejaria o surgimento de candidaturas extravagantes, especialmente à direita. É difícil sustentar essa afirmação sem restrições, mesmo porque, apesar de tudo, nossas instituições estão funcionando, a despeito da grave crise política e econômica.
Mesmo em relação à opinião pública, não há sinais claros de que ela tenha andado numa ou noutra direção. Talvez esteja no reduto autoritário e tradicionalista onde sempre esteve, quando se trata de buscar soluções para a segurança pública.
Daí que conservadorismo e exotismo continuarão existindo em grau elevado. É esse sentimento que sustenta a lacuna histórica e a ausência profunda de projetos de segurança pública no Brasil, mas isso não surgiu agora. É histórico.
CLAUDIO BEATO é coordenador do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da UFMG e professor visitante da Universidade de Columbia (EUA) 

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