26 de outubro de 2017

Maioria dos estudantes de oito anos não sabe ler nem fazer conta direito


Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 24-08-2017: Especial Superpauta Criancas. Serie de entrevistas com criancas. Sala de aula de turma do 3o ano da escola Nilo Pecanha (na Freguesia do O) onde estudam as alunas Beatriz Santana Nunes e Isabela Gilioli (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, ESPECIAIS).
Sala de aula de turma do 3º ano em escola municipal na zona norte da cidade de São Paulo
Mais da metade dos alunos do 3º ano do ensino fundamental da rede pública do Brasil têm níveis de leitura e matemática considerados insuficientes, segundo dados de avaliação nacional de alfabetização realizada no ano passado. Em escrita, mais de um terço estão defasados.
Na comparação com a última edição, em 2014, a situação é de estagnação em leitura: 56% dos alunos estavam em níveis insuficientes em 2014, e agora são 55%. Esses alunos não teriam a competência de localizar uma informação explícita em textos como lenda e cantiga folclórica.
Mais de 2 milhões de crianças participaram da avaliação (ANA). Quase 90% dos alunos possuíam 8 anos ou mais no momento da aplicação, em novembro de 2016.
O MEC divide os resultados de desempenho em leitura em quatro níveis (elementar, básico, adequado e desejável), sendo os dois primeiros considerados como insuficientes e os dois últimos, suficientes. Só 13% dos alunos alcançam o patamar "desejável" –em 2014, eram 11%.
A média nacional esconde fortes desigualdades regionais. Mais de um terço dos alunos do Norte e do Nordeste ficaram posicionados no nível 1, considerado elementar. Na região Sul, são 12%.
Somente oito Estados têm menos da metade dos alunos nos dois piores níveis. Minas Gerais tem a menor proporção de crianças nessas condições, mesmo com resultados desfavoráveis: 38% não ultrapassam o nível básico.
São Paulo aparece com o terceiro melhor resultado. Entretanto, 41% dos alunos têm desempenho inadequado.
Para o economista Ernesto Faria, as desigualdades são muito altas. "É reflexo de questões socioeconômicas, mas também de uma escola que reproduz desigualdade e oferece menos a quem mais precisa", diz ele, diretor do Iede (Instituto Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional).
Segundo a presidente do Inep, Maria Inês Fini, a Base Nacional Comum Curricular pode ajudar. "Ela definirá melhor o que é o processo de alfabetização", afirma.
A base define o que os alunos têm de aprender a cada série e deverá sustentar os currículos de todas as escolas do país, públicas e privadas. O bloco que vai da educação infantil ao ensino fundamental está em análise final no Conselho Nacional de Educação e deve ficar pronto neste ano. A parte do ensino médio permanece no MEC, sem previsão de conclusão.
ESCRITA
Em escrita, 34% dos alunos estão em nível insuficiente. Não conseguem, por exemplo, fazer uso adequado da pontuação, de modo a comprometer uma narrativa.
Os dados de escrita de 2016 não são comparáveis com a avaliação de 2014, segundo o ministério, que não expôs quais foram as alterações.
Enquanto no Norte e Nordeste um quarto dos estudantes não passou do nível elementar, por exemplo, esse índice na região Sul é de 6%.
Já em matemática 55% dos alunos têm desempenho insuficiente. Não resolvem, por exemplo, contas de subtração com dois algarismos. Eram 57% em 2014.
O comportamento de desigualdade se repete. Norte e Nordeste têm mais de um terço no primeiro nível. No Sudeste, são 15%.
O MEC ainda anunciou um programa de reforço para a alfabetização. Entre as ações está prevista a inclusão de professores assistentes para atuar em conjunto com os docentes que já estão em sala.
A expectativa é atingir 200 mil turmas de 1º e 2º anos no ano que vem, com o investimento de R$ 523 milhões. Caberá às redes e escolas organizar as formas de atuação dos assistentes, que vão dedicar cinco horas
semanais para turmas de 5.000 escolas.
Esse programa será articulado com a Política de Formação de Professores, lançada na semana passada, e que prevê 80 mil vagas da chamada "residência pedagógica".
Tanto a política de alfabetização quanto a de formação docente incluem a repaginação de programas já existentes no próprio MEC, como o de iniciação à docência e o de formação de professores dentro do chamado (PNAIC) Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.
A avaliação de alfabetização foi criada no âmbito do PNAIC e a primeira edição ocorreu em 2014. Em 2015, a realização foi cancelada por falta de recursos, sendo retomada no ano passado.

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