Jorge Araújo/Folhapress | ||
Vista da Cidade Universitária da USP, na zona oeste de São Paulo |
Na edição de 2017 do Ranking Universitário Folha (RUF), a USP caiu para a 3ª posição na classificação geral das universidades, precedida pela UFRJ, que permanece na liderança pelo segundo ano consecutivo. A segunda posição passou a ser ocupada pela Unicamp.
A queda de uma gigante como a USP no RUF, universidade que sempre aparece em primeiro lugar nos rankings internacionais, vem sendo atribuída a sua não participação no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade).
De fato, se a USP participasse do Enade e obtivesse nota similar à Unicamp e à UFRJ, ocuparia a primeira posição no ranking. Contudo, esta análise simplista retira a atenção do que importa: os resultados alcançados pela USP já não dão a esta universidade uma posição dianteira que a mantenha em larga distância com relação às demais.
Que a USP mantenha os mesmos resultados ano a ano, isto não é suficiente para que ela ocupe a primeira posição no RUF.
Pode-se argumentar que haveria uma distorção na metodologia do RUF, já que a USP permanece na dianteira nos rankings internacionais. Sabemos que a UFRJ e a Unicamp possuem menor prestígio internacional que a USP; dessa maneira, perdem posições nos rankings internacionais.
O principal argumento defendido para entender a queda da USP no RUF é que a universidade perde pontos ao não participar do Enade, que passa a ser o vilão da história e um vilão que desvia nosso olhar para o que importa. O desempenho da USP sinaliza para uma crise no sistema universitário brasileiro.
Pouca luz é dada à verdadeira questão. Se o indicador do Enade já vinha sendo utilizado em edições anteriores do RUF, por que a USP, que sempre foi a primeira colocada no ranking, nos dois últimos anos vem perdendo posições?
A diferença de pontuação da USP, primeira colocada em 2012, ano de lançamento do RUF, com a então terceira colocada, a UFRJ, era de 7,77 pontos. Hoje, com a inversão de posições, a diferença é de 0,18 pontos. A USP mantém a liderança em pesquisa, inovação e mercado, e é a segunda em internacionalização e nona em ensino.
Fica evidente que, mesmo não pontuando na nota do Enade, a USP não está mais anos- luz à frente de outras universidades brasileiras.
Na metodologia do RUF, o resultado do Enade integra a avaliação de ensino. É notório que o Enade apresenta várias limitações. De um lado, uma parcela de estudantes boicota esse exame, cuja nota não surte efeitos no histórico escolar. De outro, emergem relatos sobre manipulação de resultados do Enade por Instituições de Ensino Superior (IES). Para as instituições, o resultado no Enade impacta diretamente na avaliação dos cursos.
Apesar dos questionamentos, o exame é a única avaliação oficial do Ministério da Educação (MEC) aplicada aos concluintes dos cursos de graduação. Por isso, a importância da sua utilização como indicador do RUF que, com caráter nacional, procura atentar às especificidades do sistema de ensino superior brasileiro. Em sua última aplicação, em 2016, o Enade teve a participação de 195.757 estudantes.
A queda da gigante USP é um termômetro para a dramática situação das universidades brasileiras que atravessam um crescente corte de recursos para ensino e pesquisa. É um equívoco atribuir a queda da posição da USP no RUF ao Enade.
Como vimos, se obtido o mesmo resultado da Unicamp e da UFRJ no Enade, a USP alcançaria a dianteira do ranking, mas isso em nada diminuiria o que o RUF aponta: precisamos pensar sobre os rumos e sobre os mecanismos institucionais para que a universidade brasileira continue a crescer.
ROGERIO MENEGHINI, 76, é diretor científico do SciELO, professor titular aposentado da USP e membro da Academia Brasileira de Ciências
ESTÊVÃO GAMBA, 42, é doutorando da Universidade Federal de São Paulo
ESTÊVÃO GAMBA, 42, é doutorando da Universidade Federal de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário